«« Castraste o poema nato ««

Data 19/04/2009 10:46:23 | Tópico: Poemas



Entraste sem bater à porta
Viajando no sopro
De poeta vivo,
Que mais parece morto
Poema obsessivo

Chegaste na minha poesia
Torta, sem valor
Que delira em mundo fosco
Tentando aprender com o actor
Que teima em gritar-te amor

Declama versos repetidos
De um poeta sofrido
Que em nenhures ficou mouco
Por cantar-te mundo louco
Pavoneia-se por tão pouco

Poetas revoltos no túmulo
Erguem brados aos céus
Embainhando poemas seus
Poemas que ergueram em punhos
Poemas , raivas em flecha
Se esvaíram por uma brecha
De uma ditadura que castrava

Que os ceifou em vida
Corajosamente bramaram
Em tantas lutas lutaram
Deixaram em rima sentida
As tormentas da sua lida
Cantaram em versos de chumbo
Chumbo,que lhes sangrou a ferida
Chamaram-te pátria querida
Ergueram-te rima proibida

E agora, nasceste
Com pena minha venceste
Da poesia te esqueceste

Rima desprovida
De senso de coesão
Rima em dia não
Desbaratada em orgulho
Afogaste-te no entulho
Nos meandros da demência
Da inveja e maledicência

Chegaste rima morta
Orgulhosa em devaneio
Empurras sem rodeio
O que te turva o aparato

Triste retrato
Desaprendeste o respeito
Enfeitas-te no preconceito
Castraste o poema nato.

Antónia Ruivo




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