Entraste sem bater à porta Viajando no sopro De poeta vivo, Que mais parece morto Poema obsessivo
Chegaste na minha poesia Torta, sem valor Que delira em mundo fosco Tentando aprender com o actor Que teima em gritar-te amor
Declama versos repetidos De um poeta sofrido Que em nenhures ficou mouco Por cantar-te mundo louco Pavoneia-se por tão pouco
Poetas revoltos no túmulo Erguem brados aos céus Embainhando poemas seus Poemas que ergueram em punhos Poemas , raivas em flecha Se esvaíram por uma brecha De uma ditadura que castrava
Que os ceifou em vida Corajosamente bramaram Em tantas lutas lutaram Deixaram em rima sentida As tormentas da sua lida Cantaram em versos de chumbo Chumbo,que lhes sangrou a ferida Chamaram-te pátria querida Ergueram-te rima proibida
E agora, nasceste Com pena minha venceste Da poesia te esqueceste
Rima desprovida De senso de coesão Rima em dia não Desbaratada em orgulho Afogaste-te no entulho Nos meandros da demência Da inveja e maledicência
Chegaste rima morta Orgulhosa em devaneio Empurras sem rodeio O que te turva o aparato
Triste retrato Desaprendeste o respeito Enfeitas-te no preconceito Castraste o poema nato.