sou um louco que sabe tocar acordeão (4)
Data 19/04/2009 21:33:58 | Tópico: Poemas
| MEU FILHO Eu acordei desde que descobri que os anarcas [ são uns gajos porreiros
Desde que descobri que os hippies usavam flores [ não porque eram maricas Mas porque isso representava o amor
Desde que o Vítor Jara ficou sem mãos e continuou a tocar viola
Meu filho A tua mãe é que se ofereceu Não preciso de ir ao Rio de Janeiro para ver o Redentor Fecho os olhos e ei-Lo Numa jangada a subir a avenida até à praça do comércio
Meu filho Este poema não é para dormires Este poema é para acordares Vê a velocidade com que as bobinas tecem o fio do futuro Olha aquele par de namorados que não sabem quando se irão encontrar outra vez
A tua mãe é que se ofereceu Nos retratos fica-se com melhor pose É verdade! Talvez a única verdade!
Meu filho Eu bem lhe quis pagar Toma para o teu menino! Pega este brinquedo que ele vai adorar! Mas ela é que se ofereceu
Meu filho Eu acordei bem antes de ter adormecido A arte não tem valor nenhum se eu não disser que sou louco Ninguém compra um quadro antes de eu morrer
Entrei na casa do vizinho para roubar pão Achas que devo denunciar que o vizinho não oferece pão?
Lembra-me as horas Diz-me se o sol já bate nos quartos Quando a máquina se desligar não chames o doutor Não vá ele evitar o melhor
Diz à mãe que não lavei as passadeiras Ela vai ficar fula Diz-lhe apenas que fui a Buenos Aires Ela vai ficar muito fula!
Meu filho Eu acordei quando Tolstoi lançou o seu primeiro livro Quando a máquina parou pela falta de braços Quando festejei o feriado com ela dentro de um contrabaixo
Eu tomaria a vez do enforcado Insultaria todos os presidentes Mas ela é que se ofereceu Não deixou o disco tocar até ao fim Puxou-me para o quarto Apaguei o cigarro à pressa Leu umas páginas do seu diário Abriu as pernas E eu vi-te nascer Mas agora és tu quem me vê nascer para o leito do Universo! Meu filho
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