Lamentos da dor que dói

Data 22/05/2007 23:54:39 | Tópico: Poemas

Um lamento arrastado, arranhado
Que risca a pele, o corpo,
Dá-se a outro cavado, desenterrado,
Que raspa o espelho como um sopro...
Novo gemido sai semi-largado
Por leito há muito cavado de mágoa
E a dor chora um choro copiado
Das faúlhas de uma frágua
De onde sai a alma temperada
A fogo vivo e água.

Corto os pulsos
Com penas cinzentas
Bradadas por impulsos
E deixo corpo impaciente
A esvair-se já quase indolente,
Enquanto procura por fora e por dentro
Pelo seu fulcro, meio, centro,
Como se pedisse para que o salvem da queda
E da aparente dor que o embebeda.

Sinto um corvo enegrecido,
De bico afilado, a sorver o ruído
Que se vai soltando perdido
Da alma colhida entre escárnios...
Ai a alma, a alma que se desprende fugida do chão
Feio, negro e lodoso, que me tapa os lábios
E me passa por entre os dedos orfãos.

Fico...
Vai o lamento, os lamentos
Despede-se a centelha numa ida sem regresso
E eu fico...
Hoje, agora, em todos os momentos,
Com o que mais me dói para sempre impresso.

Valdevinoxis


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