Prisão do Tarrafal (À Memória dos Presos Políticos)

Data 25/04/2009 09:42:11 | Tópico: Homenagens

Troquei algumas palavras comigo,
Umas e outras de tamanha ternura,
Misturei cada uma em pequenos versos
Lancei-lhes sal e certa fervura
Temperadas a olhares perversos.

Decorei de maus livros as paredes,
Entre férreas grades de prisão
Embutidas em pedra gasta, suja,
Neste calabouço de escuridão
Que se ilumina no piar da coruja.

Lá fora ouvi os arames farpados
Que batiam tresloucados ao vento,
De noite, o Sol das grandes luzes,
A altiva forca só, de ar ciumento,
Companheira inseparável de mil cruzes.

Afeiçoei-me às torturas neste corpo
Às gotas de água no silêncio da sala
Completadas por chibatadas cortantes,
O sonhar com o doce sabor de uma bala
Que me libertasse destas correntes.

Conto anos de segundo em segundo,
Partilho-os com camaradas de cela,
Todos sabem que está perto da hora
De lembrar que a vida foi bela,
Que é tempo de partir, ir embora.


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