
Ironia
Data 25/04/2009 09:59:06 | Tópico: Poemas
| Deleito-me a pensar Nas palavras escritas que crescem Como se nelas existisse uma fonte Onde o sublime e o impossível amanhecem
Um traço na folha Uma folha sem traço É um dilema perpétuo Saber se o poema é um beijo... ou um abraço..
O trilho por decidir E o vazio por preencher Velas no rebordo da vida E um grito no decano da solidão Presidindo à assembleia remota Onde os Deuses discutem as estratégias Para o extermínio da emoção!
Nas horas silenciosas Ocultas o medo As mãos tremem-te e os punhos vacilam E do outro lado da cortina encontramos o nevoeiro Que a formalidade do mundo nos contamina...!
Ao longo dos dias As noites vão mudando as vidas E os breves longos instantes de eufemismo São apenas sanguíneas temperanças Loucuras ténues, devassas, que a madrugada te sussurrou...
Ao fim de um ano... Acordas sonâmbulo E o dia não tem mais dia Que a noite é feita de lume apagado Censurado pela ventania
É que a noite não é mais noite... E a vida não é mais vida... És tu e só tu... dentro de uma lagoa vazia Onde as algas te cegaram o sorriso... E te embriagaram de ilusão...
É que... Quando abrires os olhos entenderás O que as máquinas do mundo te fizeram Mercantilizaram-te o coração Montaram as suas estruturas frias de aço, ferro e pedra E num mercado ao ar livre, feira popular da escuridão Os Homens resignaram-se a mentir Em vez de olhar e ouvir O ritmo de cada sensação...
E sem saberes... Adormeceste pensando que sabes tudo Porque alienado permaneces Cego, surdo e mudo...
A vida passou... os Homens morreram... E nem as lágrimas nos registaram a saudade...!
Nada fica depois da partida... Nem palácios, nem contas ricas.. nem os diamantes à volta do pescoço... Nem a carne morna... luzidia... onde dançam os diamantes... Nem anéis... nem os ossos... Tudo se esvai... Como poeira num vendaval... E anda um mundo inteiro subjugado a impérios imensos Que mais não são do que castelos de areia Que sucumbirão Ao subir da maré...!
Por ironia... O Homem... tão obcecado pelo realismo... pelos factos... e provas... É presa de si próprio... Neste horizonte em que realidade é feita de incongruentes falsidades Salpicada aqui e ali... Com nano-verdades...
É esse o fado Adormecer.. antes de despertar... Deleitamo-nos a pensar... Nestas palavras escritas que se disseram Como se nelas existisse uma fonte Onde o sublime e o impossível aconteceram...
.. para sempre... nunca... .. no extenuante excesso... .. desta ironia...!
Pedro Campos
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