Uma árvore

Data 23/05/2007 15:40:20 | Tópico: Poemas

Uma árvore levantava-se
das raízes que ao chão prendia,
escorregava-me pelos olhos abertos
e por entre as minhas mãos, esgueirava-se...
pelas palmas, dedos, pontas... ia-se e fugia.
Uma árvore com folhas e afectos,
de abraços colados ao tronco
e juras de amor sulcadas na casca,
fazia-se caminheira no ar
deixando-se folhear pelo som rouco
da chuva empurrada e fraca
que se ia tingindo num verde balançar.

Noutra altura,
soltaram-se, deitadas, as folhas outonais
dos ramos húmidos da cacimba ainda rara,
como se soubessem já sem primavera
e comidas pelas vontades sasonais
que, de árvore em árvore, mostravam a cara
toda nua, implacável mas clara e vera.

Uma árvore que se levantava... levantou-se
desde o outro lado do tempo mais lento
e disse, emudecendo o barulho vizinho,
que sabia adormecer, num dia que dia fosse,
por ordem natural ou coisa do momento
como todas as folhas filhas do outono
que se desprendiam num voo planado...
que caíam sem morrer, que iam só por sono.

Valdevinoxis


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