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 O Gira-discosData 26/04/2009 20:42:34 | Tópico: Poemas
 
 |  | O gira-discos está quebrado! Vês o disco a girar?
 Parece um som psicadélico
 Com um vazio no centro desequilibrado
 Oscilando como o candelabro a deslizar
 Pelo vento que sussurrando
 Não sossega de chorar...
 
 Estou...
 À espera que a solidão dos nuncas
 Amanheça à espera do futuro que fui
 Nos sonhos dos que me amaram sem condição
 Tempo ante tempo
 Dedos abraçando mãos
 No silêncio
 No teu silêncio... de me escutares...assim...
 De me escutares... ali...
 Estes meus pensamentos...
 Numa decifrável ilusão..
 
 Estou... doente!
 Dolente do meu pensar que morreu
 A tentar compreender o infinito
 Que há no caos das coisas finitas
 Do universo que cada um traz.. colossal...
 Dentro da sua mão...
 
 Ao pensar compliquei o simples
 Ao amar cristalizei o pensar
 E feri olhos no caminho
 Sem saber onde... para onde olhar
 
 Transformei a inocência em armadilha
 E os passos suaves e esvoaçantes.. em opressão...
 Por me embrenhar nas silvas da vida...
 Que ficam além, na estrada da confusão...
 
 E enquanto me pensava livre
 Não vi as correntes que me prendiam
 Me agrilhoavam às celas de memórias escondidas
 No baú dos dias em que todos estavam acordados comigo...
 Lado a lado como num sonho de criança...
 Uma festa em casa da minha avó...
 E os amigos, os familiares, os primos, os tios, o meu avô...
 Todos respirando e falando... tão bem.. pareciam vivos...
 
 Hoje... a maquinaria está suspensa...
 A agulha e o braço da canção já cessaram de movimentos
 E o gira-discos.. está mesmo partido... não há dúvidas...!
 
 E na companhia dos discos riscados
 Já só ficam os dedos amontoados
 Com as contas feitas e os projectos abandonados
 E as lágrimas fugidias...
 Paralelas a meia dúzia de poesias..
 Que jazem... no frio da sala...
 Ali... na mesma mesa solitária
 Onde se acumula o pó em fatias
 E fogachos de imagens retratadas
 Do tempo em que nunca eu pensara na vida
 Do tempo... em que o tempo me não doía
 Porque conhecer... era desafiante..
 E a dor... uma ideia ausente...
 Colega de quarto da utopia...
 Escutando...
 Num gira-discos inteiro...
 Música inteira...
 No tempo em que o sorriso...era inteiro...
 E ninguém chorava por olhar as fotografias.
 
 
 Pedro Campos.
 
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