Caminhemos audazes na avenida reflorida de lilases

Data 23/05/2007 22:53:40 | Tópico: Poemas -> Amor

Toma-me nas tuas mãos amado,
quando a lua dormitar sentada em troncos d’árvore
na boca madrugada do silêncio.
Toma-me no afago prometido a cada final de tarde,
no marulhar das ondas em palidez de folhas,
na ramagem cálida do olival adormentado.

Toma-me nas tuas mãos amado, cálix de fogo,
no jeito brando,
no jeito morno
do luar invasor da negra noite.
No espanto d’águas desvanecidas
e nestas avenidas arpoadas em leito de lilases
ao alcatrão vivo e primeiro. Aqui, amado,
onde rebusco a sombra descolorida
do teu corpo, do teu cheiro ao meu colado.

Busca-me agora, amado, na candura
com que buscas na língua bífida do mar
a minha imagem, a sibilar.
Busca-te elevado em esfinges de marfim,
nos espíritos de brida e do fio fino d’aragem.
Na fome da carne insaciada dos girassóis,
na sede das traças em pousios d’alvos lençóis.

Busca-me, toma-me inteira nos seios das tuas mãos,
e nelas descansarão os meus, sem temores ou receios,
que adivinho, meu querido,
em ti começa o verbo e genésica viagem
e de nós, comum sentido.

Busca-me, amado.
Busca-me sem que detenhas angústias
na incerteza do rumo ou traçado.
Caminhemos audazes na avenida reflorida de lilases.



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