Chá de poesia

Data 23/05/2007 23:00:49 | Tópico: Poemas

Depois de adormecer a dor de ser,
depois de saltar de nuvem em nuvem,
depois de descer ao mais obscuro abismo,
acordo pesado, enrolado em mim,
e tenho a árdua tarefa de desembrulhar o papel de rebuçado em que a noite me deixou.
Apetece-me gritar um palavrão!
Mas não, ainda não...
Guardo-o para mais tarde...

Ergo-me como pedra gigante puxada por cordas e,
desequilibrado, pergunto para onde me levam as linhas de perspectiva.

Rio com vontade da figurinha que me olha do espelho,
até que um de nós não suporte mais e desvie o olhar.
Lavo o rosto com o sabonete da mágoa e enxaguo-o na toalha dos poemas por fazer.

Preparo um chá de poesia,
e saboreio-o lentamente, como ele deve de ser saboreado.
Afinal eu tenho sempre a chaleira dos poemas ao lume e bolachas com pinguinhas de versos prontas para servir a quem as quiser degustar, assim como eu o faço.
Sôfrego engulo pétalas de rosas e planto-as de volta
no jardim de onde saíram e para onde, triunfais, agora regressam.

Visto-me de deferência pelas coisas pequenas que a vista alcança e assobio a canção que um melro sábio me ensinou.

Então e só então sei que já consigo
dançar até à alma da alma...



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