O poema a que não posso dar um título

Data 04/05/2009 21:51:06 | Tópico: Poemas

Talvez fosse tão tarde que se tornou cedo,
tal a inflamação que inchava o medo
num abraço de carbúnculos e sem credo...

Pouco importa agora
saber de demora,
por isso carrego a febre da hora
a curvar-me a espinha enquanto me vou embora.
Direi sem atirar da boca para fora
Que amortalho o tabaco com papel de arroz
enquanto afago a doença que se me pôs
atrás dos olhos já arrastados até ao rosto.
Não é coisa que se faça com gosto,
não é coisa descomprometida e magra,
não é nada que se esconda quando deflagra
ou, sequer, é morte feita por quem abala.
Aguarda-me, amortalhado, o cigarro que me cala,
que me atira o sopro para fora dos lábios,
esses secos... secos e de feitio encarquilhado
por falta de sentimentos justos e sábios.

Que não se fale de culpas fetais ou de fado,
que não me falem do tempo que passa
pois, esse, já me ultrapassou e vi-o de atravessado
como se, de soslaio, também me visse por pressa.

Valdevinoxis



Este texto vem de Luso-Poemas
https://www.luso-poemas.net

Pode visualizá-lo seguindo este link:
https://www.luso-poemas.net/modules/news/article.php?storyid=81468