Sem palavras, meu amado

Data 26/05/2007 17:46:15 | Tópico: Poemas -> Amor

Hoje, amado,
falaremos com a boca recoberta
pela luz bárbara de milhões de estrelas sábias.
Derrubadas muralha aos olhos de verdura,
do bosque emancipado deste amor
alvo e puro, serei tua, por fim. E tu de mim.

Sem palavras, meu amado, os nossos corpos
buscar-se-ão em acerto, no eco do verbo, em segredo.

Voar-se-ão livres, no voo fixado do sal da pele.
Descansar-se-ão acolhidos na epiderme
longínqua dos astros.
Beber-se-ão sedentos em divina concha,
na luz vencida, seiva da vida, em predição.
Madrugar-se-ão em desfolhadas folhas,
bravias giestas, virginais florestas.

Em rendição, conceber-se-ão silêncios,
na nudez das dunas e das fragas em volúpia.
No tacteio secreto dos dedos, oásis do deserto.

Na chuva da tarde, amado, tombaremos cinjos
violinos, em febres de cordas,
em febres de corpos. Suados.
Nas mãos abertas,
nas formas incompletas de um Cosmos.
Na fome da carne. Na febre da alma.
E da sua sede.
D’átomos a explodirem-se,
a reflorirem-se da terra verde.
No começo da luz,
no início da labareda
na juba das ondas, espumas, gazelas brancas…

Sem palavras, meu amado
folhagens de ternura, uma a uma,
esvoaçar-se-ão em nós, pássaros incertos.


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