
«« Sei que vais lá estar««
Data 25/05/2009 16:29:24 | Tópico: Prosas Poéticas
| Nas pedras lisas da calçada Revejo a minha imagem já tão gasta, imagem que desconheço Rolam pedras em delírio pela chapada do tempo Levam na corrente, os meus anseios, os meus sentidos Empurram sem ter dó, os meus sonhos, mostram-me um caminho, Frio e nu, onde o pó da desilusão tomou conta da paisagem, Por vezes a fria aragem, que corre a par pela chapada, diz-me… Que o meu destino foi escrito, muito antes de nascer, como posso entender Que o ventre que me fez viver, nada sabe de mim, como posso compreender Que o mundo onde vou morrer, não me tenha escrito o fim Quando me revejo nas pedras, sinto-me de alma nua, sinto que já fui tua Sim tua, desconhecido em viagem, névoa parda da miragem, daquilo que sonhei ser Daquilo que não sonhei ter, mas que um dia vou colher. Pedras soltas na calçada Pisadas por todos a eito, pedras soltas no meu peito, chocalham as ideias Ideias que adormeço no leito, gelado em dia não, gelado na confusão Na correria medonha, no barulho ensurdecedor Que as pedras fazem ao rolar, como elas gritam sem parar Parecendo me alertar, para o que me falta encontrar Mas como, Como podem elas, me levar, nesse mar a navegar, sem ter medo de naufragar Porque sei que vais lá estar, esperando Mesmo que nunca te encontre É isso que as pedras me dizem, rolando.
Antónia Ruivo
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