Mortalha do amor

Data 27/05/2009 01:30:41 | Tópico: Poemas

Agonizando dentro da minha memória, momentos imperfeitos que nos alcançaram e eu quase posso ver os nós das palavras que ficaram por dizer, fincadas às pressas no jardim cor de sangue que viceja nos meus olhos; presas à força da dignidade no pedúnculo do silêncio invernal desta pequena tarde. Sinto-lhes o perfume sonoro que ainda tem rastro nas linhas dos meus lábios desusados; a maciez efêmera de tudo que foi sentimento sob o nome rude e inexorável da face abissal do esquecimento.
São palavras mortas as únicas dádivas que me esperam para além da glória; no depois do sol onde a luz se deita, resignada, nos braços sepulcrais da última noite. São horas enfermas de vigília e pranto as que me velam o coração ferido sob um manto escuro de saudade infinda, a mortalha do amor.




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