
A maldição dos Mil mundos
Data 28/05/2009 08:09:30 | Tópico: Poemas -> Introspecção
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Foste amaldiçoado E tu sabe-lo! Foste amaldiçoado no dia Em que pela primeira vez Fizeste a tua voz soar neste mundo O dia em que inocentemente nasceste!
Cada vez que respiras Sabes respirar uma maldição Imperdoável… Caminhas dentro de ti mesmo Sobre esse doloroso fardo De nunca seres tu próprio; O fardo de ir vivendo os dias condenados; Condenado e só!
Pintas o contorno da tua sombra Numa fria parede branca E pintas uma porta. Beijas a sombra E desfazes-te do teu corpo Caminhas em ti mesmo E em mil mundos. Caminhas e transbordas Portas e portas e portas Tantas quanto o teu olhar alcança… Deste-lhes o nome de mundos paralelos Paralelos ao mundo metafísico E ao mundo onde te abandonaste. Onde um dia cresceste Pensando ser “feliz”…
Metes as mãos à cabeça E arrancas os sonhos Um por um todos caem à tua frente E apercebeste da tua crua realidade A realidade de ser careca, Neste mundo de espelhos Mil e uma bocas riem-se de ti! Caras sem feição… As cabeças que ostentam as bocas São feitas de folhas de papel. Desenhos de caras surgem São os que amas… Os que sempre amaste riem-se de ti!
O peito bate forte, O chão desaparece E num grito de criança Sobes ou cais ao vazio! O infinito parece ainda mais incalculável. A queda ou a subida, (Porque estás no vazio) Vão arrancando pedaços de ti Mas sabes não ser tu! O teu rosto está impresso Numa folha de papel E ostenta um sorriso! Ris-te de ti próprio… Do fracasso de nunca atingiste Pois até o fracasso Está além dos teus limites
O espelho parte-se ao longe E uma balada soa na tua cabeça Tambores rugem Ao vento que não existe. Os tambores do fim Anunciam o inicio… Ouves alguém chorar, Vês a pedra fria E tem o teu nome. Um buraco… Lamentas ser careca E nunca teres tido sonhos Para lamentar nesta derradeira hora…
A terra cai sobre ti E ouves murmurar São as vozes das recordações Abres os olhos E o vento finge bater-te na cara. Tens cabelo mas já não és tu. Estás debruçado Tudo é escuro Menos o monte de terra Onde estás sentado… Estás sentado sobre a terra Que engoliu o teu corpo Tens flores na campa… São as flores De quem agora te ama…
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