A Carta Que Nunca Te Escrevi ou a Simples Confissão do Meu Maior Crime (Parte XXI)

Data 28/05/2009 10:04:34 | Tópico: Prosas Poéticas

Vem ver a quantidade de mundo que tenho para dar. Estira-te nas colossais asas do Condor e olha para mim, aqui tão longe de ti, tão pequeno neste pedaço de chão.
Saber que te escondes por entre as nuvens, essas delicadas almofadas de algodão que te enfeitam os olhos, e sentar-me no fim do mundo à espera. Chamo-lhe o fim do mundo por já o ter percorrido tantas vezes, ao ponto de o sentir como meu, só meu, de julgar ser capaz de o partilhar só contigo. Creio que agora seja altura de ser a vida a comandar o sonho e a limitar certas loucuras que me acho incapaz de contornar.
Tenho poucas escolhas, entre elas a de não morrer, sofrer eternamente pela demanda que a tua procura me exige.
Há dias fizeram-me rir, agora que me sinto a chegar à meia-idade - o que quer que isso seja -, ao me darem a definição disso mesmo, da meia-idade, rezava assim: meia-idade é a altura em que o trabalho já não nos dá prazer, mas em que o prazer nos dá muito trabalho. Não estou assim tão mal, tão desesperado, receio chegar lá, a esse ponto.
Apressa-te. Responde-me. Pergunta-me.
Diz-me quem sou e só assim saberei quem és.


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