A pulga atrás da orelha

Data 31/05/2009 01:06:17 | Tópico: Prosas Poéticas

Sou um osso duro de roer, porque o meu cão comeu-me a carne. Na carcaça já não há nada nem poeira nas costelas. Mas os ossos falam, guardaram a língua no maxilar. Como é evidente a língua não tem papas, e os dentes rangem a compasso. Fiquei chata que nem tábua. Vou engolir uma melancia. Aproveito e dou de comer à pulga que ficou atrás da orelha que já não tenho.
Foi-se na boca da curiosidade que o gato rasgou.
Vou-me fingindo inocente do que não sei nem quero saber e cruzo as tíbias no ar, abanando com vigor os metatarsos. Uma bicicleta viria mesmo a calhar, mas ter sempre razão não dá pica.
Hoje já não é Sábado, nem dia de pagar as favas, queria pular o dia de segunda e dormir uma sesta numa quinta.
É que lá as melancias são maiores que na estufa e o ar não está viciado pelo sintético das mentes. Ainda. ..Um corvo ronda…
O silêncio anda a tomar conta do buraco do ozono; por isso está proibido de gritar.
O verde desespera e ninguém vê…Um abutre ronda…
(O coração, esse, é agora um passarinho fora da gaiola, à espera de levantar voo num raio de sol. Mas não é fácil ser ave, nem sequer peixe, que o corvo, o abutre e o gato rondam…)



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