Bucolismo dominical

Data 01/06/2009 15:21:35 | Tópico: Prosas Poéticas

Tenho nas mãos os quantos paus com que se faz uma canoa mas o rio é muito do meu sangue e o mar não mais existe. À beira d’água doce sento-me, a argila me servindo de papel e desfaço-me num poema imenso: o amor...
Um ou outro passarinho dá sinal da tarde, o vento morto, o sol frio do fim de maio, uma música de correnteza atravessa os ouvidos do tempo; piso o poema com meus pés de cera, o amor num coração de menina, demasiado infantil, desfigurado neste chão que é só meu.
Deixo-me banhar em silêncio, de olhos fechados, como se o rio fosse resignação e perda; mas há vida, a minha vida, a alegria de possuí-la na textura desse momento, no abraço líquido que recebo, no existir incólume dessa água que é só minha, que é só minha...

Bebo a paisagem em um gole longo, saboreio a paz, antes de voltar a ser pessoa infeliz da cidade grande.




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