Deste promontório bebo o mar

Data 01/06/2007 14:39:30 | Tópico: Poemas -> Amor

Deste promontório bebo o mar
elevado em vagas alterosas, descompassas,
de ventos nordestados,
de brados, gemidos,
de faunos, de hunos,
de mastodontes irados.

Arrasto correntes guilhotinadas
ao bem querer, chamo o teu nome em cada
asa de Gaivota que passa,
que corta veloz o teu olhar de veludo,
em cada espuma distinta na crista da onda
que, solidária a mim, à minha dor,
se eleva, agita e grita.

Chamo por ti, pirata confesso do meu corpo
Do meu sangue
Da minha chama
Do cimélio que albergo no meu peito aberto
em dádiva.
Chamo por ti, como quem chama a sacra água
perante uma colheita incendiada,
nesta dor de espera, segundo a segundo adiada,
nesta faca de dois gumes, enterrada em agonia,
neste porão a borbulhar ébrio,
nos cheiros profanos do teu corpo.
No sol da tua pele que me incendeia,
que navega a minha praia, a barra da minha saia,
em naus catrinetas de papel,
em busca do seu porto.
E deste desejo imperativo de ser de ti, e em ti
gávea de sonhos professados,
de ser concha dos teus mais libidos amores,
dos teu mais ousados pecados,
de ser tua, em cada vaga, em cada volta de mar,
em cada fio platinado de luar,
de ser tua
no tanto, imenso, jeito imperfeito de te amar,
marinheira sem proficiência, na busca insana
e na impaciência de um palco de utopia.

Deste promontório bebo o mar,
e vejo-te, amado, a navegar, hasteado
num barco de papel - o meu olhar de mar e mel.




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