Na penumbra aferrolhada

Data 02/06/2007 17:21:49 | Tópico: Poemas -> Desilusão

Na penumbra aferrolhada de caminhos tecidos
em vácua reminiscência, multiplicam-se em demora,
obscuridades d’árvores corcovadas sobre os seus ramos.

Varrem o absoluto vazio na raiz embriagada dos tempos,
quando a luz tribal das recém-casadas madrugadas
mostram permanentemente vazio o tálamo nu.

Urdidos em nós, chocalham lenhos rumorosos
de botes naufragados.
Povoam enredos em cheiros de pólvora, cinza e pó,
nas correntezas inoportunas de águas salobras,
coadas ao leito ebúrneo d’úlceras cravas.

Nos aguilhões da madrugada onde me habito,
habitas tu, nesta inquietação ciclópica e no jejum,
no anseio emancipado, de ser por fim e só,
em ti amado, erário acomodado.

De te ver a rezar a minha pele,
de te ver a beber o sal e o mel, das lágrimas cavas,
em cálice de algas, de saliva e de jasmim.
E de te beber, amado, sangue e seiva de mim.

Na penumbra aferrolhada de trilhos urdidos
em chãos desencontrados, morro amado,
nos teus braços,
sem que deles tenha sentido um só abraço..






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