RAÇA DE ABUTRES

Data 10/06/2009 21:37:44 | Tópico: Crónicas

RAÇA DE ABUTRES


Em princípio, a Força ou é gracioso privilégio da natura, ou merecido fruto da vontade e do esforço pessoal. Mas, seja qual seja a sua fonte, objecto de admiração e até de cobiça não foge de o ser.
Acontece porém que nem toda a força é força. É o caso muito concreto da força do cobarde. Refiro-me em particular àquele que tem a força concentrada na garganta e se lhe esvai pela ponta da língua, pelo comentário verrinoso, pela calúnia.
Esse – aquele cuja força se lhe ficou pelas cordas vocais é incapaz de ser forte sozinho, de encarar “na cara” aquele para quem tem endereçado o aguilhão da verve odiosa.
Este tipo de “força” carece via de regra de plateia, da plateia que convém, capaz de esboçar aquele sorriso estimulante do veneno que enche os neurónios do emissor da palavra vil. Em suma, este precisa de quem lhe guarde as costas. Aliás, a “força” deste tipo de cobarde é tão mais forte, quanto mais desacompanhado esteja o alvo da sua aguilhoada.
Este tipo de cidadão tem lógica preferência pelas esquinas – locais estratégicos que lhe proporcionam um maior campo de acção e entretenimento.
O “forte” cobarde é via de regra sedentário e daltónico. A vida de cigano nunca serviria por razões óbvias e as cores, cuida de as baralhar: onde está branco, esforça-se por ver preto e ao castanho claro, passa-lhe o “marron” por cima.
Do abutre tem as mandíbulas; só que não se limita aos despojos. Ele mesmo se apresta em fabricar as suas próprias vítimas.
É detestável este tipo de abutre.

Antónius

(Novembro 1991)



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