Os concertos de sábado de tarde, no velho ginásio da escola

Data 16/06/2009 20:53:34 | Tópico: Crónicas

Estávamos na década de setenta…
Depois de deixarmos os frondosos anos sessenta, repletos de novidades, apesar da negrura que ambientava o triste semblante da população portuguesa, onde a mão da ditadura ia deixando as últimas impressões digitais. Tinham passado os movimentos “hippye”, o “Woodstock”, a Joan Baez, o Bob Dylan, o Jim Morrison, a Janis Joplin, “The Eagles”, Procul Harum”, Creedence Clearwater Revival”, “ Status Quo”, “Alice Cooper”, “Pink Floyd”, e tantos e tantos outros nomes…alguma nostalgia nesta enumeração.
Por cá ouvia-se o António Calvário, a Madalena Iglésias, o Artur Garcia, a Paula Ribas, a Maria de Lurdes Resende, o João Maria Tudela, o Francisco José (com seus olhos castanhos), o Tristão da Silva, a Hermínia Silva, o Alfredo Marceneiro, a grande Simone de Oliveira e a extraordinária Amália Rodrigues (segundo a generalizada opinião dos portugueses).
Chegados aos anos setenta outras vozes, outros cantos, outra poesia começa a surgir (embora um pouco às escondidas), e sobre essa transição venho recordar os concertos organizados por alguns jovens professores, aos sábados de tarde (foram cinco ou seis, que assisti), onde os bilhetes (cinco escudos) eram os denominados livros de rifas com o respectivo talão a ficar na posse da organização. Estes eventos sucederam aos célebres encontros com o maestro José Atalaya, onde se ensinava a ouvir e trautear música (de origem clássica) de Betthoven, Mozart, Liszt, Strauss e tantos outros.
Então esperávamos, ansiosos, pelo tão aguardado sábado e era uma corrida para o velho ginásio da escola, onde se encontrava um palco para encenação e apresentação de peças de teatro, e nós nos íamos sentando pelo chão (ainda havia algumas cadeiras para os primeiros a chegar…) mesmo à sua frente. Depois era ver chegar os artistas tão aguardados e era ouvi-los cantar. Muitas vezes criava-se um ambiente tal que começávamos a cantar em uníssono num ambiente inexplicável, para a época. Ah, já me esquecia de referenciar alguns dos nomes desses cantores: - José Afonso, Francisco Fanhais, José Jorge Letria, Carlos Alberto Moniz, Maria do Amparo, Vitorino, Janita Salomé, Adriano Correia de Oliveira, Fausto, entre outros que não me ocorre o nome. Foram momentos fascinantes. Mais tarde terminaram, não sei porquê. Só me lembro que os muros da escola passaram a ter em si escritas algumas frases ameaçadoras.

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Pequenas crónicas sobre estórias passadas na Escola Comercial Patrício Prazeres há quase quarenta anos...


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