E se tanto és em mim, ó meu amado
Data 04/06/2007 18:30:38 | Tópico: Poemas -> Amor
| Em ti, amado, descansa o flato desta tarde e a chuva miudinha dos meus olhos, quando, numa só palavra, num gesto brando, num gesto horto e criador, selas num beijo as dores agudas duma jornada salgada de dor.
E as rosas mais bravias do jardim, e os galhos ressequidos, crestados e quebrados e os pássaros ressentidos, magoados, logo feridos, agrilhoados na placidez algodoada dos ninhos, reflorescem em intempéries de Arlequim
E as nuvens, uma a uma, a aragem lavam, e das fontes se solta o verdor tenro d’ avencas, no frenesi libertador de cismas e caprichos, na cor virgem d' águas setentrionais e, do topo daquela inopinada frágua, sugas ávido o néctar descosido dos meus seios.
E os meus braços são abraços no teu corpo e o teu corpo o meu divino porto…
E se tanto és em mim, ó meu amado, e se em mim explodem desejos de mansinho, e se do teu corpo, anseios, dragões de fogo, que me guardam, moira encantada, em torreões, em castelos e ameias - altaneiras e tão breves -, se são só meus, todos os poemas que escreves, ama-me agora, amado, nesta tarde, nesta hora na melancolia incendiária de diferida tempestade, numa dulcíssima ventura que, sem ti, não encontro o céu estrelado, sem ti amado, tudo venta, chuva e chora.
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