
A COR DO VÁCUO
Data 22/06/2009 13:15:39 | Tópico: Poemas -> Tristeza
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Como se contemplasse uma paisagem impalpável, Testemunho recorrentemente O ocaso e o desassossego dos sóis humanos:
Ainda hospedados na nave d’aurora; A meio caminho do limite da estrada Sombria, pérfida e sinuosa; Dando passos cautelosos, breves Sobre a obliqua corda bamba Da falcifórmica alegria, Cuja sina é ser o corpo Que sempre tomba Muito antes de chegar Á fonte da água cristalina.
A mais pura verdade É que a flor da inocência Mal eclode, desabrocha, prospera; Já sofre voz de prisão E passa sua vida ---- Que, na gestação, Emitia uma luz Tão impávida, ígnea --- Numa empedernida cela: Solitária, sádica, Faca a esventrar Inclementemente As vísceras da mental aquarela.
Ah, a onipotência da crueza É uma força inexorável: Ela desfila pelas passarelas da guerra; Ela se alimenta de almas errantes, erráticas, crédulas; Ela se tranforma continuamente Nos habitacionais carcinomas da selva de pedra.
Ah, a miséria humana Ah, a sede por vidas etéreas Sôfrega e celeremente Apodera-se da nossa chama e medra soberana.
E depois, A paisagem do vácuo É o que unicamente sobra:
Não há mente Não há verve Não há lembranças nem versos de protesto E de paixão.
O que vive é um corpo: Um corpo Que não ama, não pensa. Um corpo Que não sente dor, desejo, Brisa, luto ou tampouco saboreia a vida.
O que vive, Finalmente, É uma matéria Que apenas anda E ocupa lugar Sob a imensidão Da atmosfera da Terra.
JESSÉ BARBOSA DE OLIVEIRA
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