
«« O meu fado«« ( carapau )
Data 27/06/2009 15:44:08 | Tópico: Textos
| Olho-te nessa inércia descabida, só me apetece amarfanhar-te Enrolar-te, maltratar-te de seguida fazer contigo um papagaio de papel E deitar-te ao vento, para que possas voar sem tento E tu continuas aí impávido e sereno, olhas-me do teu pedestal De papel sem vida, e esperas… Esperas que eu triste coitada te tinja de palavras sem nexo Palavreado, mero palavreado, de quem se sente alguém Só porque jorra no mundo meia de dúzia de arabesco, cheios De coisa nenhuma, a que chama palavras e faz delas bandeiras rasgadas Pára de me olhar, não estou louca, não Apenas te reduzo à tua insignificância de papel em branco Tu, tinhas a obrigação de me guiar os sentidos, de me ensinar A escrever, somente aquilo que os outros querem ler Mas não, mantens-te imóvel esperando, numa espera que me desespera Que eu te cubra de raiva, de dor e de mágoa, Ris da minha insanidade, sim ris a cada palavra amorfa Que te enterro no peito Grita, barafusta, ensina-me a ter tino Ensina-me a escrever, palavras meladas, doces açucaradas Daquelas que não dizem nada, mas que movem as mentes Que lêem em cada palavra, a sua sina mal amada, que Vêem em cada palavra um mulher só e despeitada Que nada mais quer que ser agasalhada Ah!Como eu gostava de ser assim, algodão doce na cabeça Gelatina no coração, as ideias onde é que elas estão Também não fazem falta Só quero ser apaparicada A culpa é tua, só tua, papel insensível, pareces papel pardo Daquele onde embrulho o carapau, a que chamo O meu fado.
Antónia Ruivo
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