O Desentupidor de Canos e a Frustração

Data 30/06/2009 21:22:48 | Tópico: Poemas

Haverá algo mais elementar que o desentupidor de canos?
Há. Mas não é disso que vos quero falar.
Haverá algo mais frustrante que não saber usar tão intuitivo instrumento?
Há. Mas não me lembro agora.

Aparentemente evidentes,
Podem abrir o sorriso a muita gente,
Tão estapafúrdias perguntas.
E é verdade me fazerem corar,
Talvez porque vos imagine
Desprezar tão simplório pensar.

A verdade, Se uma existe,
É a complicação de entender
Quão complexo é o universo,
Mesmo para coisas tão reles,
Impondo-se-nos a cada momento.

Tudo se inicia num problema,
Nem simples, que desses não há,
Nem complexo, pois evidente,
E incómodo até:
Ai a sujidade que se não some!

Num repente, degenera em dois ou três problemazinhos,
Ainda antes de resolvido o padrasto deles!

Com a afamada ventosa na mão:
- Ai que vai disto, e com isto há-de ir!
Mas será que vai? E não é que custa a ir...
Empurra-se, injectando uma golfada de água
no esgoto... Sem efeito... Empurra-se de novo...
Ainda sem efeito... E outra vez... E nada?

Raios!
Também os desentupidores deveriam
ser vendidos com livro de instruções!

Imagine-se o funcionamento da geringonça:
Imagine-se o fluxo da água no cano, forçada
pela sobre-pressão da campânula, acelerando...
Imagine-se o efeito do rápido refluxo. Invertido
O sentido, a depressão... abalando, remexendo;
Imagine-se agora um rápido sacudir (o segredo),
Agitado, quase frenético, quase tremura!

Eis o turbilhão!... Eis o turbilhão!
Arre!... Passou a frustração!
Afirma-se a auto-confiança,
sacudindo a vida e a esperança.
Garrido Carvalho

Junho '09



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