O que sabemos nós dos outros?

Nada!

A não ser da imagem que se reflecte nos nossos olhos.

O que sabemos nós,
Da mãe que dilacerada pela dor carrega nos braços o filho já sem vida?


Nada sabemos porque nunca a sentimos.

Que sabemos nós
Do velhinho que carrega seu corpo já cansado de uma vida repleta de alegrias e tristezas e agora se vê perdido num mundo agitado e ruidoso onde a solidão e a tristezas são as suas derradeiras companheiras.

Nada sabemos porque ainda vivemos na primavera da nossa vida.

Que sabemos nós
da criança que inocentemente joga nas ruas da sua aldeia ou cidade e de repente é apanhada na cilada de um ser humano sem escrúpulos, e abusa seu corpo virgem, dilacerando para sempre o mais profundo do seu ser, tendo que carregar essa ferida uma vida inteira?

Nada sabemos, porque nem sequer podemos imaginar tal dor.

Que sabemos nós
do escritor, das suas noites de insónia povoada pelas personagens do seu último romance, que lhe tira a criatividade e a inspiração impedindo. o de continuar a história ,enquanto o seu editor, espera ansiosamente a entrega do livro que em nada se compadece com a falta de inspiração?

Nada sabemos porque não somos escritores e não dependemos disso para matar a fome da nossa família

O que sabemos nos
Do agricultor, que vê a sua sementeira queimada pela geada do último inverno, ou pelos fogos do último verão? Que sabemos nós da dor que ele sente quando nada mais resta no celeiro para alimentar a família?

Nada porque o nosso celeiro é o súper mercado onde tudo está devidamente classificado e embalado.

O que sabemos nós
do desempregado que todos os dias se levanta na esperança de encontrar uma solução para matar a fome do seus filhos enquanto espera ansiosamente encontrar outro trabalho que lhe permita viver uma vida dignamente?

Nada, porque ainda não perdemos o nosso emprego.

Que sabes tu de mim
do que quero transmitir nas minhas pobres palavras simples e tímidas onde tento descrever o meu mundo?

Nada, porque de mim nada sabes.

Que sei eu de ti?

Nada!