Diário de Teresa (06/06/16)

Data 06/06/2007 14:49:41 | Tópico: Textos -> Amor

Lisboa, 06/06/16

Hoje é o primeiro dia do resto da minha vida! Entrei na carruagem em que sempre ambicionei entrar.
Entrei, sentei-me e senti-me protegida. Acompanhada! Não tive medo, não estava sozinha. Ao meu lado estavas tu, meu anjo, meu amo e meu senhor.
Estavas com um sorriso terno, meigo e uma lágrima (tua ou minha?). Não sei. Talvez nem queira saber. Talvez pouco importe onde as nossas fronteiras se tocam, onde se fundem ou simplesmente onde se impõem.
A lágrima, essa, aflorou-me a pele, caiu em tempestade na face precocemente envelhecida.
Deslizou. Num segundo o percurso terminou. Fim de estação!
A vida está sempre a pregar-nos partidas...
Já não andava de comboio há quase um ano. Como sabes, sou conduzida, não conduzo. Mas hoje conduzi-me na carruagem da vida. Naquela de um só carril e que inevitavelmente me conduz sempre para dentro de mim mesma. Para um lugar secreto que só tu conheces!
Sai da carruagem num processo lento, de quem se reconcilia com o seu tempo: sem pressas, sem sobressaltos. Num tempo dentro do próprio tempo …
Oiço os pássaros, vejo o céu (está azul, afinal estamos em Junho, é Primavera…), bebo da aragem e do rumor húmido da folhagem.
Ao fundo o rio. E os lilases a cobrir o chão – sabes o quanto gosto de lilases, meu amor…
Enceto “O caminho” num corpo a percorrer-se no compasso demarcado na batuta dos sentidos. Conduzo-me através das calçadas para o começo de um novo ciclo de vida e nela, mesmo que não fisicamente, estarás sempre tu. Indubitavelmente.
Por ti procurei respostas em muitas áreas do conhecimento e do meu desconhecimento, num registo e numa matriz da ignorância do "eu" que me habita, que me agita e que se agita em estado de vigília.
Fecho por instantes os olhos… estanco o passo, estanco-me no passo.
Recordo agora, passo a passo, todos os passos que tive de dar até aqui chegar.
Estou sentada no átrio do ISPA. Ao que venho ainda não está aberto. Dirijo-me à recepção. Acolhe-me uma jovem vestida de rosa. Pergunto pelo bar. Quero beber uma água… beber a vida num copo de água, afogar a incerteza numa só gota.
Num labirinto - de escadas e de sentimentos -, estou frente a frente com a transparência de um momento.


Diário de Teresa, in "Baia das Gaivotas"
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