Cegueira

Data 06/06/2007 22:03:15 | Tópico: Poemas

Quantas palavras ficaram por dizer
Por entre as muitas murmuradas.
Silêncio comprometedor,
Medo, lascívia e sexo.
Quanto amor ficou por fazer
No passado, entre frases inacabadas,
Raiva, desejo e outras coisas sem nexo.

A bravura enaltecida pelo olhar cego
De vingança ou simplesmente confiança,
Destrinça de corpos gémeos
Unidos por ventos tempestuosos.
Herança de morte que em vida carrego
Neste tempo árido que procura bonança.
Matrizes e equações de loucos génios,
Homens ingénuos... virtuosos.

Contrai-se o cadáver num último suspiro
A contar o relógio numa corrida louca,
Numa intermitente remada contra a maré.
De entre as armas letais em mãos humanas
Ouve-se por fim o derradeiro tiro,
Aniquilada outra vida que já é tão pouca.
Acabou-se, ninguém mais ousa ter fé,
Pararam as horas, os dias, as semanas...

Semeiam-se vidas no meu imaginário
Que sufocam a morte que as consome,
Gritos rebeldes que rompem a escuridão.
Noite, sangue... vampiros.
Homem reles, bicho sanguinário,
Sedento de guerra, ser que não dorme,
Que se alimenta da ingénua solidão,
Da história cravada em velhos papiros.

Desenho o largo horizonte com o olhar.
O cheiro do carvão que me sustenta
Alimenta-me o sonho gasto e egoísta,
De poder viver só de mim... só para mim!
Desaparece subitamente o azul do Mar,
Confunde-se na fumaça, nesta vida cinzenta.
Sou Gelo, pedra e outrora activista,
Sou princípio, meio e fim.



Este texto vem de Luso-Poemas
https://www.luso-poemas.net

Pode visualizá-lo seguindo este link:
https://www.luso-poemas.net/modules/news/article.php?storyid=8952