FUMAR MATA

Data 07/07/2009 20:49:54 | Tópico: Prosas Poéticas

Acordei no recobro!?
Deve ser. Estas paredes brancas, este cheiro a desinfectante, este sono intemporal na pele e ácido na língua que toca o lençol. E o corpo nú solto quase a pairar como quem sobe, como quem desce e não malha nem cai. Vou abrindo os sentidos como quem levita no cá e lá, não se apaga, não se acende. Tenho ainda na cabeça uma batida de peças a cair num balde, como se saissem directas do fundo do meu corpo. Num relâmpago navego na onda que me leva ao inconsciente conhecimento da realidade que fui. Sim do que fui, porque agora sei que voltei numa nuvem que o meu navio vai expelindo à medida que eu vou fumando este mar de pensamentos até ao fim. Na borda desse mar saberei que as minhas veias secaram, os meus membros gangrenaram, e o que me espera é meia-vida. O balde, o balde já foi com metade de mim...
Fumar mata? Que se lixe, peço mais um cigarro e assim fumarei a vida até ao fim...


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