Desaparecido em combate

Data 11/07/2009 10:47:12 | Tópico: Prosas Poéticas

Estou aqui a conversar com a minha garrafa boca na boca. Ela sente-me na língua as palavras não ditas no amargo da tristeza que me vem do fundo. Foi só uma troca, um detalhe inútil e fútil, mas que leva as casas do tempo para deltas do desconhecido. Esta água que vou bebendo não me lava o que não chegou, nem substitui a dos meus olhos a escurecer no sentido contrário da madrugada que não acaba. Maldita espera dentro de mim. Qualquer dia apareço-me de repente já pronta para nadar na garrafa da desilusão e sair pelo gargalo da insanidade. Dizem que estou quase, mas um quase que já é, sem que mo digam. Será por pena, ou antes por escárnio, que é quase o mesmo, e mais certo que pedrada. Porque o silêncio é uma pedrada que se entranha na espera mais desesperada e mais alongada pela estratégia de quem quer sem querer. Engana-se o tempo saltando horários, rotinas. Um pouco mais. Está quase, é já ali, um som, um salto, um olhar, uma volta, espreitar, preparar, melhorar, sorrir, chorar, sorrir, ter fé, controlar, perder a força, querer sumir, desaparecer...estou quase lá, eu sei que estou quase e lá talvez te encontre....


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