O Senhor dos Mares

Data 13/07/2009 18:55:22 | Tópico: Textos -> Outros

O dia acordou quente e seco como sempre.Com as temperaturas a rondar pela manhã os 26 graus, o veleiro Santiago,estava agora ancorado ao largo das ilhas das Bahamas. Decorria o ano de 1687.

O capitão Thomas Fernandez, um descendente de famílias de sangue azul que pela ironia do destino convertera-se num fora da lei, deu folga á sua tripulação de marinheiros para estes recuperarem forças. Iriam mais uma vez navegar em direcção ás ilhas da Escócia quando o vento estivesse de feição. Filho de pai inglês e mãe espanhola, Thomas Fernandez em nada se revia no estilo de vida da sua família e decidiu assim, tornar a vida daqueles que faziam viagens comerciais com as suas embarcações entre a Europa e América Latina num autêntico inferno.
Interceptava frequentemente navios e apoderava-se dos seus bens.

Santiago um veleiro apetrechado de dois grandes mastros de elevada envergadura e de sete velas de seda genuína, foram a mais recente emboscada do capitão sem escrúpulos. Todos os marinheiros se interrogavam porque razão Thomas Fernandez queria de novo rumar em direcção á Escócia se a informação de que dispunham, nenhuma embarcação com valores iria para aquela zona. Mas quem tem o poder de mandar e ordenar é o capitão e ninguém se atreveu a questionar tal ordem. O último que o tivera feito, foi enforcado no mastro principal do Santiago.Com enorme alarido e cantando ao mesmo tempo, os piratas lá iam subindo aos mastros do barco e a pouco e pouco, desfraldavam as velas enormes do Santiago.

Smith o braço direito do capitão, lembrou-se que em tempos o mesmo tinha tido um romance com uma escocesa de cabelos cor de fogo e que a sua beleza fazia inveja ás próprias sereias que por ali passavam.
Será que Thomas Fernandez estava cansado da vida que levava e iria ter finalmente com a sua ruiva?
Depois de ver o mapa de bordo do capitão, não lhe restavam dúvidas, iam mesmo direitinhos á ilha Skye na Escócia.

Parece que nem tudo estava a correr de feição. Avizinhava-se sem que alguém desse conta, uma valente tempestade tropical. O lindo sol, rapidamente foi substituído pela noite escura e o mar parecia assustar pela primeira vez as velas do veleiro. James o marinheiro mais novo da tripulação, tremia por todos os cantos.
Smith aconselhou Thomas fernandez a voltar para trás, mas este não lhe deu ouvidos.

Estava decidido a ver a sua ruiva de cabelos cor de fogo.
O navio cada vez mais tinha dificuldade em escoar toda a água que entrava. Tinha chegado ao fim das suas capacidades. O capitão continuava como se estivesse hipnotizado pelo cântico das sereias e já não dava ouvidos aos seus homens. Cada um estava entregue á sua sorte.

Smith tratou de baixar os dois únicos salva-vidas.
Estava na hora de abandonar o Santiago. Só por sorte um único salva-vidas chegou são e salvo á ilha de Skye. Dois marinheiros, Smith e James, foram os dois sobreviventes deste naufrágio. A ruiva que Thomas Fernandez tanto queria ver quando soube da tragédia, entregou-se ao desgosto e não mais quis ver-o-mar.

E assim acaba mais uma história em que a paixão cegou e abafou completamente a experiência de um senhor que conhecia bem os mares.•

Gabriel Reis



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