Dura Faina
Data 08/06/2007 15:41:28 | Tópico: Poemas
| A chuva cai insistente e impiedosa, Fustiga a caravela que dança na vaga, A chusma desnorteada prega aos céus... Sufocam-se as vozes que clamam compaixão, Perversos deuses que permitem a ilusão Dos homens que labutam e se tornam réus Julgados sem culpa no mar que os apaga Mãos pintadas de sangue em tons de rosa.
Família amargurada que perde seu pai, Que a fome decepa por culpa de ninguém... Culpa solteira que é de tantos Culpa envergonhada que traça corações. Olha-se ao longe o brilho dos arpões Em terra, rostos gastos pelos diários prantos, No bolso contam-se os trocos, de vintém em vintém, Espera-se o fim da faina quando a Lua cai.
O sal queima-lhes as rugas salientes, As suas roupas fétidas não escondem o trabalho. As gaivotas... essas sim voam divertidas, Avisam os homens para quando a tempestade São mensageiras da desgraça e da verdade, Conhecem as marés, os ventos e estas parcas vidas. Praias desertas cobertas de cascalho, Viúvas chorosas e impacientes.
Semblantes carregados de triste olhar, A velhice passada na mesa da taberna A lembrar os mares revoltos que davam luta, As redes cheias do melhor peixe do mercado, Andar lento e trôpego de pescador revoltado. A revolta desta vida filha de puta, Que dorme ao relento à porta da caserna Ao frio, ao passado... ao mar.
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