memórias de um amnésico VIII

Data 15/07/2009 18:43:04 | Tópico: Prosas Poéticas


tenho medo de descobrir o que está para alem dos puxadores. o que está dentro das gavetas.sei muito bem o que posso encontrar.sei porque eu nasci lá. nesse espaço escuro foi onde cresci e me fiz homem.nesse lugar escuro.a minha infância e as primeiras nuvens negras.a chave é o desconhecido desde criança.as nuvens negras de agora foi lá que apareceram a primeira vez.e foi-me perdoado como atenuante com o passar dos anos.memórias.o meu primeiro desgosto foi um momento espontâneo.o coração é preso na fornalha. ainda está quente dos dias.a vida deste coração não tem remédio nem obedece a consultas médicas.pela primeira vez a desgraça.ter medo.e de estar só.as gavetas e a chave.portas imaginárias porque não tenho portas no quarto. e os meus olhos.lágrimas.tantas alegrias aperfeiçoadas com o passar dos anos.sinceridade.seriedade num sorriso de palhaço gago.a respiração amacia as dores.meu coração sai da fornalha.é o seu primeiro beijo.e é arrefecido pelo gelo dos lábios ciumentos.suspiros.como que acorda a corda. acorda.e vai-me passando as inúmeras bebedeiras.falho ao encontro de estar só.como falho ao encontro de não me ter.desejo a anestesia de um agora para que me penetre o corpo triste. corpo que do arquitecto se projectou.a casa.divagações e noite.a casa mimada.um cheiro a morto.a genialidade desta casa é uma orgia de corpos ao cérebro debilitado.a intenção é tocar um foco de luz.cego.faz com que a chave saia de dentro da gaveta.viagem.os puxadores sao cortesoes e ficam enaltecidos com a minha gratidão.tudo está trancado ao não coração.partes do coração aguardam no espaço escuro.na gaveta.quantas vezes solicitei aos cortesoes que o coração merecia ser reparado.consertado.os pedaços e a carne.tantas feridas e tantas cicatrizes "este velho doente"."voltarei a ve-lo neste mundo?".torturo-me por não saber da chave que abre a gaveta. o lado de fora.vida.meu coração é um mistério cordial.a recusa de medicamentos.as palavras.para quando as exigências do suicida.este vento.este esperar causa ansiedade.a minha ansiedade é um corpo de gelo aberto pronto para a sepultura. esta ansiedade fria.resta-me como contentamento de ter experiência no campo medicinal. outras experiências eloquentes trabalhadas nas horas que passei com a esferográfica.a raça.a razão.o esquizofrénico pede para alugar esta casa.o quarto.a gaveta.os puxadores.os dedos.um outro eu imaginário.adormeço.quem me explica esta realidade.esta nova realidade de ver as coisas.sei que existe uma resposta utópica pelo que já escrevi.os amigos.e quem me diz se devo ignora-lo.o esquizofrénico.o outro eu.deste tormento a dor é um beneficio de satisfação pelo sentimento agoniante que cuidadosamente parte com o tempo. no espaço.interminável esta casa dos ossos. cinza.





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