Aqui, nesta ilha

Data 09/06/2007 22:04:55 | Tópico: Poemas -> Amor

Aqui, nesta ilha, tacteio com dedos em chaga
o verde luminoso de uma inquieta vaga.

Descalça e nua, caminho uma a uma,
ondas sem nome, num sonho, de quem acordada, dorme.
Aqui nesta ilha, amado, são verdes os sapos,
ausentes os braços dos teus abraços…

De bruços, encosto atenta o ouvido
no umbigo húmido da terra.
Atento ao retumbar do mar e não sei,
amado, se o que escuto
nesta fola que se eleva,
que subterrânea se espuma,
que não consente sequer o meu barco
de atracar ao cimento desguarnecido do cais,
é a voz sustenida de ti ou de mim,
(que as não distingo, que as não separo).
Esta voz de sal e mar
a encrespar, a marulhar, a agitar-se
rum rugido
num bramido
num frémito lamento rouco de dor e pranto.

Na solenidade de um risco leitoso
uma gaivota voluteia agora em voos sem asas
no espaço aberto do Oceano infinito e,
num gesto desmedido, num voo picado,
num voo instigado, sofrido,
no caudal incerto de um só grito
inerte, a alma liberta a chuva, liberta-se
em chuva numa dança de ventanias de brisas.

Aqui nesta ilha, o mar engole e devora
o tempo mitigado em espera.
O tempo que de ser tempo, amado,
se atrasa e se demora, numa dança de braços,
de asas, imobilizados a flutuar, sem movimento!


Este texto vem de Luso-Poemas
https://www.luso-poemas.net

Pode visualizá-lo seguindo este link:
https://www.luso-poemas.net/modules/news/article.php?storyid=9150