Um site de poesia à beira-mar plantado

Data 22/07/2009 00:18:51 | Tópico: Textos -> Outros

Credo, um poema novo, vou já ler. Minha nossa, que coisa tão linda, que poema de amor tão forte, penetra na minha alma, como se noutro sítio fosse. Amor à primeira leitura. Apeteceu-me agarrar na fotografia vaga da escritora e possuí-la, já ali, com todas as forças psíquicas que tinha.

Cinquenta pessoas a achar que o parágrafo acima foi a sério. Outras cem a achar que foi irónico. Outras vinte a achar que foi uma calúnia, uma ofensa pessoal, e que este texto se dirige única e exclusivamente a elas. Quem me dera fazer amor com os seus egos, num orgasmo gigantesco como o tamanho dos amantes.

Quem me dera ter duzentas e cinquenta e seis imagens à disposição para espalhar por este poema sem ordem. Quem me dera ter vídeos e animações, para criar o ambiente de intensa paixão que quero viver com alguém.

Mas um dia, decidi expelir o meu espírito e levá-lo a passear. Surrealizei-me, inventando palavras que não existem, encarnando o escritor que não sou. Pisei terras desconhecidas em sapatos do tamanho de outro. Doeu, mas os meus pés encolheram. E quando voltei a mim, tinha os pés pequenos. E gostava de meter imagens nos meus poemas. E gostava que me comentassem os poemas, como se me amassem de uma forma absoluta e única. Também gostava de fazer tudo e mais alguma coisa e porra nenhuma também.

Tudo porque os pés encolheram tanto que me faziam tropeçar e cair. E eu nunca tinha caído antes. Antes, não percebia que tinha os pés grandes e equilibrados, calcanhares feios e robustos que faziam de mim pessoa simples e afável. Mas também posso ser estúpido, incrível, absolutamente espantoso na minha idiotice. Que será fantástica para mim, dependendo do tamanho dos meus sapatos.

A moral da história é: todos cometemos erros e devemos aceitar toda a gente como ela é.

Oi? Espera... Não é isso, coisa nenhuma! Tenho direito a odiar pessoas. Tenho direito a meter cascas de banana espalhadas por este texto, para que vocês possam todos cair na porcaria que as formigas fazem e não se vê. Tenho também o direito a ser odiado, o direito a ser desprezado e o direito sádico de gostar que me odeiem e me mandem uns tabefes na cara, sentindo o poder de outra pessoa que me domina com um chicote e a cara tapada. Não sei que tamanho de sapato teria de usar para isso, no entanto.

O meu objectivo é fazer-vos perder dois minutos da vossa vida a ler este texto que diz muito e não diz nada. Lição de auto-estima? Talvez. Moral e ética? Hmmmm... Sermão sobre a diversidade? Nunca tive jeito para padre.

Mas vá, se querem mesmo um propósito... Eu não tinha mais nada que fazer. Estava aqui sentado, a pensar numa forma de continuar a minha existência doentia e incómoda para a sociedade, afogado num oásis de auto-estima e um deserto de falta dela, pensando num amor que devia ter e não tenho, no dinheiro que gastaria se o tivesse, no livro que faria se não calçasse o 42.


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