outra pequena fotografia sentimental

Data 27/07/2009 19:02:40 | Tópico: Mensagens

Nenhuma tempestade a rugir lá fora e cá dentro afogo-me eu no travesseiro, de onde meu rosto tenta emergir pra dizer-te entre soluços o poema de amor que infesta este quarto. Imagino que passas pela porta como um anjo do mal, imbuído de remorsos; que acaricias a mobília fria como se à minha pele tocasses... Penso ver-te sentado ao pé da cama, na boca o meu nome, nos olhos a luz que nunca aqueceu porção nenhuma da noite absurda de que sou feita. As cortinas tremulam regidas pelo assombro do teu respirar, aquela música – único presente que me deste –
a repetir-se cada vez mais lentamente... Tenho os olhos encharcados de emoções que nunca pude dizer-te, poesia que expira, diluída nos lençóis onde amei-te, sozinha, durante toda a minha tristeza... Num gesto de extrema piedade vieste assistir a mais um último tormento que a ti dedico... Quando o sol já quase apanha-me a alma, é que vais embora, ilhar-te na ausência fecunda a que me acostumaste.
Arranco-me da moldura e escrevo esta pequena carta pra ninguém.



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