Destroçado pela derrota derramo minha amargura Pelos caminhos deste país que já foi de vinho e mel E a ela perdura, amarela e viscosa como fel, Tingindo cada rosto, cada figura, De lívida brancura
Já nada é como era dantes e o cabelo que me vai faltando é apenas breve indício do Inverno que se vem aproximando. Mas o que me dói e não tem cura neste entardecer azedo é ver o país a adormecer cinzento de indiferença e pasmo bafiento
Ninguém faz nada sem proveito. Pelas auto-estradas que conduzem aos centros comerciais telemóveis saúdam as novas catedrais (Por aí fora, o abandono Matas queimadas, hortas perdidas peixes lançados ao mar fábricas fechadas, reformas antecipadas país de alheio dono Desespero do desemprego, aldeias abandonadas oh subsídio-servo-dependência!)
Não, nem orgulho ferido nem sonhos perdidos agora já só o meu olhar camponês me magoa como o mato à minha terra onde já nada é como era dantes... Chove no Verão, o Inverno aquece E o nevoeiro não tece mistérios bastantes outros que a miséria deste Portugal que esmorece
Só sei que de lado nenhum sairá a luz que rompe as trevas porque já nem a noite é de breu nem os dias resplandecem e os amanhãs não cantam, silenciosos como a nossa triste terra.
Desculpem a ousadia - não sou poeta, com muita pena minha.
|