Parado no tempo

Data 30/07/2009 16:27:40 | Tópico: Prosas Poéticas

No alto daquela serra, o clima era diverso do resto do mundo. Havia sempre sol, chuva, neblina, calor, frio. Tudo na certa medida. Nem mais, nem menos. As pessoas tinham uma aparência pitoresca, como se tivessem brotado do chão desse lugar, como as próprias pedras e os arbustos de lá... onde quer que eu esteja, se encontrar alguém daquele lugar saberei só de olhar. Nada era frívolo. Tudo era frívolo! As árvores de groselha na praça eram atacadas por sandálias para ver cair o seu cacho de frutos azedos e deliciosos. As músicas das cantigas de roda sempre rodam em minha mente, como um disco que nunca saiu da vitrola. Tudo, ainda me é real. O povo é o mesmo... Envernizados. Nada mudou. Ou mudou? Os pés de groselhas foram derrubados em prol de uma praça moderna. Só. Pois as portas das casinhas são as mesmas, mudaram apenas as cores, que, no entanto são as mesmas! Fortes e vibrantes. A porta amarela ficou vermelha e a porta vermelha agora é amarela... Nunca mais voltei lá. Mas sei que é assim! Apenas aperfeiçôo a minha lembrança com músicas e cores, saias e brincos de argolas douradas, girando e rodando ao som de um tempo que parou naquela cidade.


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