Hoje não é dia de nada

Data 05/08/2009 02:16:33 | Tópico: Textos

Depois de lidos tantos livros nenhuma palavra que me valha, conservo intactos os prefácios que me corromperam. Não sei o porquê de morrer assim mil vezes e ainda respirar. Não me serve o mundo a quase nada, deixam-me zonza os meridianos e eu não posso gritar aqui do terceiro sub-solo. Das mãos da insensatez recebi este diploma de sofrer para gozar a dor de estar sozinha dentro do meu peso. Todos vão embora um dia, para dentro de si mesmos, onde se deixam ficar, pra nada. Tenho engolido as respostas da borra de café e me rasgam a garganta, como o xis rasga o peixe – o mar é inútil, odeio o seu sentido. Minhas mãos são pés que me levam, que me levam, que me levam; pra ninguém. Não sinto graça na eternidade nem poesia no branco da lua, o amor é uma piada triste. Tão cansada de amanhã e não tenho onde me deitar para romper com a noite. Um cheiro de chuva rasga a tarde em esperança e medo e eu sou uma criança também, que só queria fazer bem pr’alguém. Hoje não é dia de nada e eu quebrei, agorinha mesmo, o espelho que a mim vigiava.


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