PUZZLE

Data 06/08/2009 19:57:14 | Tópico: Poemas

Na prisão das minhas tréguas
construo um jogo de letras,
das letras faço palavras,
com elas brinco aos poetas.

Tacteio as peças nas trevas,
que a luz é parca e avara,
sinto-as, mais que as leio,
que a imagem nunca me é clara!

Perco-me, decifrando o puzzle,
que desconheço, à partida.
Tiro-me, à sorte, os pedaços,
em almas mil repartida...

E vou esboçando a cena,
compondo o fundo ao meu quadro,
jogando significantes
testando significados.

Começo a ver obra finda
nas intenções do meu sonho,
arestas trocam-me as voltas
das peças que, às voltas, ponho!

E o sentido final
não sou eu que o escolho,
são as letras caprichosas
em rastejantes estolhos.

Quem disse que as palavras
não têm vontade própria?
Não há mão que as domine,
não se prestam a ser cópia!

E o poema, quando pronto,
é mais que a pura feição
da mentira que o ditou:
é Verdade, eu queira ou não!

republicação

(editado originalmente com o título "PENA SUSPENSA" e fazendo parte de uma trilogia, junto com "EVASÃO" e "RETALIAÇÃO")



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