Silencio indesejado.

Data 11/08/2009 10:00:05 | Tópico: Textos -> Tristeza

O silêncio dissolveu-se na memória do tempo.
Os ecos de outrora ressonam na alma adormecida, como tambores em plena repercussão.
Fragmentos de um passado escondido na memória e trazido a luz do dia, na ânsia de lhe dar voz e aniquilar para sempre os estilhaços do passado.

A voz tinha-se calado no preciso momento em que a consciência tinha acordado para a realidade dos sentidos.

Fechara a sete chaves os gemidos de prazer saídos de uma voz rouca e incompreensível

Fecharam-se no baú do infinito as carícias dolorosas daquelas mãos enormes e feias, que só ansiavam explorar um corpo ainda em flor.

O silêncio calara para sempre os sons de um momento indesejado, a água lavara a pele e o corpo das marcas deixadas a flor da pele.

E a alma?

Como se calam os sons da alma?

Como se lavam as memórias?

Como se apagam os vestígios da vergonha e da incompreensão?

Não há solução.

Por muito que se queira esconder, as marcas serão sempre visíveis nos rostos, onde se mataram os sonhos, a inocência, o amor a descoberta de um corpo cheio de mistérios e possibilidades.,

O sorriso da criança que deveria ser de pureza e alegria entristece-se de repente,
o rosto ganha uma expressividade pesada, fruto do peso do silêncio que carrega todos os dias na alma.


E ao carrasco?

O que lhe acontece

Nada!

Porque são muitas vezes homens bem vistos na aldeia ou na sociedade, porque jamais seriam capazes de praticar uma coisa tão abominável

Porque são protegidos pela inocência de uma criança e pelo peso enorme do silêncio que ela carrega.
Porque são protegidos pela vergonha que ela inocentemente sente no seu interior.


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