uma história sem história

Data 11/08/2009 11:14:16 | Tópico: Textos

queria eu contar uma história sem história, uma história verdadeira que seja mentira, uma história dum casamento começa no dia da morte ou vice-versa. ou algo impossivel que se torne bem claro, aí pensei: vou fazer uma história sobre um homem e uma mulher que se gostam. mas logo perdi o entusiasmo em contar essa história porque o homem tinha boca mas não falava vai daí que era dificil inventar diálogos.

depois surgiu a ideia de fazer uma história sobre o aquecimento da terra mas, como tenho lido pouco sobre o assunto pensei: é melhor não. sei, pelo que já li, que numa história convém que haja ladrões, polícias,
padres, prostitutas,
o mau-da-fita,
o salvador e se possível um cavalo para o personagem principal dar à sola.

não sei se reparou mas eu nesta coisa de fazer de conta estou à procura de uma história, que podia ser a sua ou minha. a minha não porque tenho dívidas no fisco e posso pecar por falar de mais. preferia falar da sua vida. que acha? por mim tudo bem, estou disposto a perder meia hora a descortinar um pouco da sua vidinha mediocre.

desculpe, não interprete isto como um insulto, se você souber um pouco de literatura verá que em nada lhe tenho contra, sabe, a imaginação nem sempre tem dias favoráveis, olhe como hoje por exemplo, eu para aqui a narrar banalidades e você perdendo o seu tempo na expectativa que daqui saia algum proveito.

lamento desiludi-lo mas daqui não levará nada. nem história nem frases mágicas para desvendar mistérios. isto aqui é linguagem de tasco reles, frases sem gramática, ideias balofas, sem pó de sentimento, sem meninas a convidar para beber um copo.
é a vida caro leitor.
tem de haver de tudo, não é o que diz o povo na sua culta ignorância? também eu podia estar no brasil a beber água de côco,
a apanhar sol nas trombas,
a catrapiscar uns biquinis,
mas não, como vê eu não saio da sepa torta, ando de frase em frase sem regra nem obediência, de cá para lá sem tonalidade sem sequer um sol apontado à mais pequeninha palavra. as histórias não se fazem do jeito que você pensa, que julga, que é só chegar aqui e pumba, já está a história feita? nãa, temos que ser duros neste ofício de narrativa lotadas de buracos, desviar o pensamento para não resvalarmos no próximo parágrafo.

tudo parece fácil mas não é, ou melhor é fácil mas é só para quem tem tempo e algum talento. calculo que neste momento esteja a ferver tal cafeteira no lume, a espumar de raiva só porque eu, escritor com ataques de nervos, não lhe vou contar uma história e também porque o quero aqui amarrado a este texto que num futuro será queimado pelos meus críticos.
já agora antes de se ir embora, acredita no destino? acredita que nós os homens temos os dias traçados? imagine se em vez de estar aqui a perder tempo, está aqui ganhando tempo e evitando dessa forma que algum mal lhe aconteça mas que não acontece porque está precisamente aqui e aqui está em segurança.

pode parecer um quanto estúpido este texto mas olhe que não, ele há coisas bem piores do que o que vou acrecentando nestas linhas tortas e vazias de contúdo, nesta casa feita com mais areia do que cimento.
desmoronar-se de repente? não acredite nissso, está bem projectado , faltam é as licenças.
não tenha problemas, mais lixado estou eu quando os intelectuais de gabardine lerem este texto e soltarem suas línguas bífidas em busca do melhor palavrão para me rebaixar ao limite mínimo dos literatos sem vintém.

vou em 2786 caracteres e, que foi que eu disse? nada! sabe...no fundo é bom estar consigo, eu aqui deste lado a desenrolar palavras e você desse lado a tentar descobrir o anagrama. faça como eu, finja de conta que, faça por ser feliz e deixe lá a sua vizinha em paz. se você foi um dos que chegou ao fim desta maratona de palavras, dou-lhe os meus parabéns. dê-me um abraço!...mas olhe lá, estou sempre atento à dupla intencionalidade.


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