BREVE RAIO X DO POETA(*)

Data 14/08/2009 21:12:46 | Tópico: Poemas

para Domingos da Mota e Eduardo Roseira, poetas portugueses - consagro, numa roda d'amigos, como se diz do outro lado do atlântico.


o poeta não é o samba
o poeta não é o fado
o poeta não é zoeira
o poeta não é enfado
o poeta não é verdade
mentira também não é
o poeta é foda
o poeta é fato
pé de sapato esquecido
resto de dicionário
palavra fora de uso
o poeta não faz seu destino
tanto fala pela boca
como pelos intestinos
o poeta não fará a revolução
o poeta é um filho da puta
o poeta é um serviçal
o poeta é um vagabundo
que rima raimundo com mundo
mas não traz a solução
o poeta é uma sentinela
guardião de almas penadas
o poeta é um porralouca
o poeta não é porra nenhuma
o poeta é um sacripanta
violador de meninas
tocador de violoncelo
numa sexta-feira de chumbo
o poeta é a puta que me pariu
por detrás dos muros da morte
o poeta não é bravo nem forte
e nem um mar de velas pandas
o poeta não é bandeira
pessoa também não é
é só um sujeitinho à toa
que cai no meio da rua
o poeta é um viado
pecado capital das palavras
é um animal sem sorriso
o poeta é o funcionário público
de gravata suja e surrada
dizendo pois-não-obrigado

o poeta subverte a ordem
atenta contra os bons costumes
o poeta cospe no chão
o poeta caga na rússia
e declara amor ao japão
o poeta adivinha a lua
o poeta vai ao comício
o poeta foge do hospício
o poeta morre de enfarto
aos pés da primeira mulher
sem que o jornal noticie
o poeta...
de uma vez por todas
sejamos sinceros
: o poeta ontem ia bem - obrigado
hoje não mais

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(*) poema publicado originalmente, em primeira versão, no blogue Ecos do Meu Pátio, do poeta português Eduardo Roseira, meu amigo.

júlio



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