CANÇÃO SEM TEMPO

Data 15/08/2009 08:00:21 | Tópico: Poemas

para o Mario Quintana, com saudade.


no porão da casa velha da rua condessa de são joaquim
ouço tosses... tosses...
lembrança da avó?
prenúncio de tuberculose?

espio o baú adormecido faz tempo
a torneira enferrujada volta a respirar no tanque
solta um gemido de água morna

no porão da casa velha
um silêncio comprido pede uma prece
a negra velha como a casa aparece com sua boca desdentada
olha para mim e se ri
pergunto-lhe o motivo da graça
ela dá uma cusparada de fumo mascado e responde:

- Ué, sêo poeta, o senhor não ouviu não?!
São as criancinhas mortas querendo brincar com o Menino Jesus de Praga...

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júlio


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