
A PRIMEIRA PEDRA
Data 23/08/2009 16:16:15 | Tópico: Poemas
| Há tanto tempo ergo-me sedento, A fim de ouvir, do amor, algum relato Que esteja além do murmúrio do vento, Que lhe traduza o conteúdo exato. Já exauri há muito o pensamento, E procurei nas águas do regato; A pele pus à força dos ungüentos E de Romeu revi todos os atos.
Quando atiraste a primeira pedra, Feriu-me a alma um coração ingrato. *
Perdi o senso, dei a mão sensível À palmatória, quando a mocidade Guardava a dor em pote invisível E seduzia-me vã felicidade. Eu vi a face dura, irascível Quando desilusão vestida de verdade Tornou o meu caminho intransponível À margem d’oceano da saudade.
Quando atiraste a primeira pedra, Feriu-me a alma um coração ingrato.
*
Depois de tudo caminhei sozinho Levando minha nau por outros mares, De outra mão senti outro carinho Provei das frutas de outros pomares. Mas de outra uva, precioso vinho, Jamais provei em nenhum dos lugares Por onde andei a procura de ninho Nem teu sabor em diversos manjares.
Quando atiraste a primeira pedra, Feriu-me a alma um coração ingrato.
*
Agora qu’envelheço a cada dia Eu vou seguindo assim resignado O verdadeiro amor é fantasia Ao infinito vai o seu legado. Essa lembrança às vezes minha guia Me atira nu nas águas do passado E eu me afogo assim em poesia Por ter um dia tanto, tanto amado.
Quando atiraste a primeira pedra, Feriu-me a alma um coração ingrato.
Frederico Salvo
|
|