o jardineiro

Data 26/08/2009 15:29:53 | Tópico: Poemas

Podo essa palavra :bor bo le ta
até as suas asas re cor ta das
levantarem voo do jardim perfumado
do nada
e pousarem no ar do meu pensamento
concreto.

Com a paciência de um jardineiro
alheio a tudo
num nada concentrado
corto cada sílaba do sen ti do
libertando-me no som da tesoura cega
e cheiro a terra.

Olho de soslaio
os excessos
caindo no chão, em ruídos.

Varro-os mais tarde, penso.
E volto a casa.

A sensação do trabalho meio-feito
desenha-se numa nuvem que me espreita
por cima.

De uma janela pequena
observo agora pedaços do céu.

Pássaros alheados, empenhados,
sobrevoam o jardim
e os telhados das casas.
Ora em bando, ora isolados,
rasam janelas, pequenas como esta.
Suas rotas precisas,
guiados pela ordem exacta
de um instinto secreto.

Voltarei amanhã
para cuidar do jardim,
penso.

Extenuado
sinto-me leve e durmo.
Mas ainda uma ideia
se deita comigo:
nos pássaros não dói um amanhã.
Nem pensam ridícula a sua tarefa vã.
Ah, como são livres, os pássaros...
Quem dera as palavras
voassem assim!

pobres, frágeis,tristes
bor bo le tas
que podo.



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