Génio aveludado

Data 27/08/2009 14:25:14 | Tópico: Poemas

Digo-vos que em certo dia
Nos meus tempos de menino
Dei de frente com a magia
Que já antes vira Aladino

Um génio bem barrigudo
Com seu bigode de artista
Aterrou seu tapete de veludo
Do meu caminho fez pista

Nem bom dia nem boa tarde
Logo me falou das vantagens
E com sua cara de alarde
Desempacotou suas mensagens

Contou-me que o mundo era seu
Me levaria onde queria
Bastava que fosse eu
O iludido do dia

Mas como eu era criança
E tinha amor e comida
Quis lá saber da França
Do Afeganistão e da Florida

Olhei para ele e afirmei
Não vou contigo agora
Vou brincar enquanto sei
Só quero que te vás embora

Deixou-me em paz esse génio
Enquanto eu era pequeno
Mas seu aspecto de arsénio
Para outros era um veneno

Os homens da minha aldeia
Fizeram dele o autarca
E com cimento e areia
Patentearam sua marca

Por azar fiz-me adulto
E exigiram-me profissão
Foi então que o meu vulto
Beijou com nojo sua mão

Minha aldeia agora cidade
Com ruas cinzentas cruzadas
Escorre lágrimas de verdade
Em manhas pretas aveludadas

Lágrimas que choro já idoso
E que a meus netos disfarço
Da vida guardo um só gozo
A alegria infantil do Março












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