Lembro-me que és pó

Data 31/08/2009 20:15:47 | Tópico: Prosas Poéticas

Antes a estiagem e eu produzia palavras de dor cada vez que respirava, como foi difícil arranjar para ti, dentro do meu coração, uma morte digna de um estrangeiro! Provei da tristeza o sabor de sempre, teus lábios secos estendidos num sonho. Ontem à noite choveu em cima do adeus que me deixaste, parece-me que seus frutos brotarão a qualquer momento, eu os tenho adubado, metódica, com saliva e lágrima, mais dia menos dia nascerão. Terão as cores úmidas, no entanto serão áridos os seus pormenores, lembrarão o teu gesto rude a cada badalada como se fosses ainda um extenuante repetir. Sinto às portas do corpo o vento que arrasta a madrugada rumo à boca do sol e um arrepio, talvez de medo, põe no meu rosto uma nova noção do que vem a ser o amor. De umas horas pra cá dei pra esquecer teu sobrenome.


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