
... em luas de lava e febre
Data 17/06/2007 15:22:27 | Tópico: Poemas
| Viajaste sôfrego o meu corpo em luas de lava e febre rumo a um destino situado no azimute fortuito, para além da véspera do medo, na noite do fascínio em que me tomaste tua, em que me agrilhoaste em braços de imaginárias asas saídas das entranhas do teu ser, de um inexiste bem-querer, em que me mostraste o mundo de tarde brancas, de gaivotas ingénuas, a singrarem cascas de nozes, nos meus olhos verdes, recreios amplos de crianças, na neutralidade de quem joga ao largo mar as redes e espera não mais do que o eterno jejuar.
Navegaste o pranto mélico dos meus olhos num batel sem fundo e nele enterraste sonhos em serranias perfumadas de jasmim, em vagas verdes, musguentas. Enfunaste as velas do meu querer em gestos secos, de mão vazias, nos glaciares ansiosos dos espelhos em que, projectado, te olhavas e sorrias, e me sorrias, na falsa claridade dos meus dias, em que protelaste o tempo em penumbras dúbias, dos gestos líquidos, dos gestos amplos, dos gestos francos, no desejo de nós, bichos deslumbrantes, na entrega sincrónica em beijos de bocas húmidas de amantes.
Na hora que morreu antes de si, na hora que nasceu e já morreu, sob a couraça oca do meu corpo viajas agora, no leito moribundo de um amor profundo, e, insano, rompes amarras, teias, estradas.
Zarpas como chegaste, sem lágrimas, sem toque, sem cheiro, em busca do teu cais, do que não tens, do que tu não és: O mar inteiro.
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