Tantão
Data 31/08/2009 23:33:46 | Tópico: Poemas
| Por alguma douda razão Não pude dormir Era meu parto de mim Me pari de mim Meu útero de onde eu mesmo saí Era uma rede bege claro numa sala azulada de tinta fresca Minha mãe me perguntou O que você vai fazer? Viver eu disse O que? Ser Que horas são? Eu deveria tentar dormir Mas o seis me impede É uma manhã chuvisquenta Eu nasci de novo de mim Minha placenta uma rede balouçante Eu nasci sem camiseta com uma bermuda curta rasgada de tanto usar Eu comi minha gosma e agora me amamento a mim com leite de fé Minha mãe instou contra minha teimosia Você me abandonou me deixou sozinha na cama Não mãe é que eu não tinha sono e quando deitei um mosquito zumbiu no meu ouvido Me deu raiva e faziam exatamente vinte e seis anos da hora que eu tinha nascido Mas eu nasci agora há pouco Me pari de mim pro mundo desconhecido da minha entrega Rabujento isento de esperma no núcleo abstrato do substrato último sonoro Do som do silêncio latejante estremelicando letras incorrigíveis no imprevisível Agora eu bebo leito grosso e úmido de minhas tetas de elefoa A tromba ruge e tenho ansiedade pela próxima frase que não posso calcular A próxima frase que não quero e não devo pensar Que só assim soa agradável apesar de destituído de sentido fraternal Quero Não sei o que quero Minha mãe talvez impaciente já se aquietou e talvez quase durma Tenho dó porque ela dorme de lado e sinto o bruxismo que ela não consegue evitar Tenho raiva porque às vezes erro mesmo sabendo que estou errando Não quero desperdiçar minha semente e minha mãe bufa descontente Porque queria me ver sem olheiras fundas negras no dia do meu aniversário Mas eu que não sei o que sou Que estou em crise de abstinência do meu cânhamo querido Não queria mais dormir Quero fazer trinta e três flexões fervorosas e despertar pro dia cinza no paraíso Quero terminar de comer aquele melão e guardar no cesto as cascas e sementinhas Quero acender mais um cigarro eu que não sou fumante mas pelo menos é alguma fumaça que engana Quero escrever num livro eletrônico de uma página só sem fim Eu sou uma solidão muito bem acompanhada Minha mãe talvez sonhe agora talvez eu lhe diga em sonhos que a amo Ou talvez ela apenas descanse exausta livre da novidade do sonho Mas eu não sei me conter E tudo é relaxamento e confiança Confiança num futuro que nunca vai chegar porque sempre morre no presente O agora mata trucida o passado e vindouro e não quero senão a faísca fora de mim que é o núcleo mais perverso de mim Sanguinolência bastarda e jogo veneno de mosquitos atrasado pois eles não picam mais depois que amanhece Mas hoje é o dia mais novo da minha vida Eu que tantas vezes já morri Agora sou tantas frações indecifráveis do meu indistinto eu jogado ao léu das palavras saborosas Sabores sutis que às vezes jogo sal em cima porque também quero ter sede Minha filosofia é de doces bem doces que depois me façam achar a água a coisa mais doce que existe Eu sou uma solidão de águia que se atira do abismo e meu amor é o abismo Trepo com o abismo e ele bota um ovo que é covardia prenhe de coragem Vou regar essa terra roxa com sangue de cotovias e unicórnios Vou arar este deserto de ciência com ódio crú e maleável Os dedos vacilam na busca por algo que não sei o que é O centro pensante do tudo A cor escondida no escuro mais escuro A língua sibilando em velocidade absurda em que corrijo meus vacilos de prestidigitação E não posso pensar no que estou fazendo E não quero olhar mais pro que estou escrevendo Sou uma velocidade de olhos fechados com medo de dormir Porque quero ser o despertar mais absurdo da realidade Mas sem ver o que estou fazendo Quero só ser o que estou fazendo E depois corrijo minha caligrafia ingrata Porque não sou mais eu Sou o deus perdido da entrega E minha alegria é uma fé horrível que eu deveria trucidar Mas continuo de olhos fechados Torcendo pra estar acertando as teclas certas Torcendo pro manuscrito ser tradutível a mim mesmo depois Quero escrever em linguagem de baleias Quero falar contigo em linguagem de golfinhos extraterrenos E abro os olhos porque me dói mantê-los fechados já que o quero é estar acordado Às vezes eu acho que já dormi demais nessa vida Não devia mais dormir Quem sabe morrer de cansaço e depois renascer Isso sim seria digno Quem sabe plantar bananeira e estremecer de abuso do coração Ou dar um abraço no meu pai esquecido A minha mãe agora dorme e estou mais feliz Porque sei que minha dor incomoda Incomoda os que me amam e estão perto de mim Mas não quero ser uma alegria fingida Quero antes o aleluia duma dor sagrada e sem sentido quero antes a anestesia dessa dor que não sinto Esse tipo de vácuo sensorial em que o tempo passa mas não passa Em que a eternidade granítica se arrasta Se eu sou qualquer coisa que dá pra definir ela é uma infinidade de objetos impessoais É uma coisa sem fronteiras que beira o ridículo mas ainda assim é completa Eu me pari de mim e não doeu Tudo que é rosa veio me chamar de novo pra deitar Mas eu não conseguia porque o mais legal é ver as cores O mais legal é ter raiva de mosquitos que não te deixam dormir E cuspir o veneno spray que mal funciona porque o que não mata fortalece Daí sou esse dejeto de idéia mal formada Um tipo de desavento ou desabafo sem remorso nem repúdia Talvez uma confissão pra qualquer coisa que pensa e ouve e que está em todos os lugares e em nenhum lugar ao mesmo tempo Se deus existe eu sei que ele está em mim E que eu não sou eu senão o fractal de pedra que já vai indo embora pra dar espaço pro próximo Se eu sou qualquer coisa é uma história sem começo de incontáveis átomos indivisíveis que já Fizeram parte de outras coisas De muitas outras coisas nesse universo E se eu puder lembrar em cada célula por onde já estive Em deuses egípcios vindos das estrelas em espaçonaves robustas Ou em águas de ejaculações femininas em grécias perdidas Ou em bafos de bocejos de cães sarnentos milênios à frente que ainda não chegaram Ou em tantas estrelas que pocam por aí afora que pareço poder alcançar esticando os dedos Eu sou uma transparência safada E gosto de estar de olhos esbugalhados Gosto de não ter sono quando sei que devia estar dormindo Mesmo que não tenha sono porque pequei e errei sabendo que estava errando Mas a bateria ainda está na metade E existem tomadas funcionando aqui por perto E pouca gente sabe que hoje é meu dia mas isso não importa porque eu nasci de novo de mim De dentro de uma rede bem trançada num condomínio de turismo de luxo em itacaré O ventilador de teto estava ligado no máximo pra espantar os mosquitos Eu não podia ligar o ventilador nem o arcondicionado no quarto porque mamãe tem problemas de garganta Coitada ela acordou dando falta de mim e tinha mil picadas inchadas no rosto que ficou descoberto E gozo do meu próprio sangue que os mosquitos arrancaram e que arranquei de volta quando os trucidei a tapas certeiros Mas eu não quero saber de descrições Se tem qualquer coisa nesse mundo que existe certo e direito acho que ele é livre de definição É qualquer coisa tão perfeita que logo vai se perdendo como antigas teorias desbancadas E minha aflição feliz e inteira é aceitar que não sei direito de patavinas nessa vida E que se qualquer coisa eu sei logo em breve em pouco será mentira deslavada Ou talvez um momento qualquer eu acerte qualquer proposição só por despeito Só por não saber o que sei Daí eu acerto Porque joguei no ar qualquer coisa que imaginei que era só imaginação mas no fim descobriram que era verdade Os marcianos estão por aí Talvez a gente seja híbridos de venusianos ou os celtas ou os maias estejam passeando em alfacentauro mas nada disso importa senão como algo interessante e supérfluo Porque agora o que mais conta é eu aprender a ganhar dinheiro Pra minha mãe não ter mais medo de ficar sem fazer nada na nossa cozinha cheio de mofo que o sol não alcança Mas nosso telhado vai ser reformado e quando mudarmos pro quarto do quintal tudo vai ficar melhor Porque o vento vai poder passar por aqueles buracos que chamam portas e janelas mais livremente E os ácaros e musgos eu vou passando um aspirador de pó e um vinagre nas paredes pra assentar E no fim das contas talvez eu até queira e devesse dormir Mas um nó na minha testa e um tipo de dor na goela me acordam de novo Porque eu não devia trocar marlboro por maconha da boa É bem diferente uma coisa da outra Uma faz bem mal e a outra faz bem bem Mas também nada em excesso nessa vida ajuda E acho que estou em excesso de qualquer coisa Talvez em excesso de tranquilidade Eu bem andei esbravejando contra amigos queridos Mas também porque ingratidão não se traga E porque tenho esperanças estúpidas de um dia o dinheiro acabar e o mundo ser mais sustentável Será que isso é poesia? Será que há poesia nessa doença incerta de renascer de mim? Tusso pra confirmar que estou vivo Minha mãe se mexeu um pouco do meu lado Ela é friorenta e tem um tipo de manta fina aquecendo os pulmões delicados Eu preciso parar de errar os mesmos erros Parece que se eu me entrego a qualquer palavra que não escolho eu sempre digo que errei Mas eu não sou um tipo qualquer de perdedor Se eu me engano é porque eu sei o valor de uma boa mentira Mas eu quero um tipo de saúde assassina Um tipo de arte marcial dançarina amaldiçoada que porém nos provém de refluxos ótimos Novos troços incomodando por dentro das veias Talvez essa gordurinha da carne que há tanto tempo eu não comia Ou aquele remédio pra dor muscular que esqueci o nome que tomei porque surfei com uma prancha sem cordinha Daí eu descruzo as pernas só pra ter algo sobre o que escrever E engulo saliva seca pelo mesmo motivo E lembro que meus dentes estão desgastados talvez também pelo mesmo motivo É uma volúpia maravilhosa ir inventando qualquer coisa que te prenda a atenção Mas será que esse você no fim não sou eu mesmo? Apesar de que logo menos já estou cinzas ao vento e você continua Você o leitor abstrato eterno que nunca vai existir senão como um invólucro conveniente pra concepção desta arte rebelde Quem sabe eu não vivo pra sempre se descobrirem a cura pro tempo Quem sabe a tecnologia não chega lá e eu tenha dinheiro suficiente pra comprar minha imortalidade corpórea Mas o que importa é que agora estou vivo Vivo e cheio de urina na bexiga que não quero esvaziar porque estou no bojo íntimo do som sem som Esse silêncio espaçado de palavras sem rumo Que porém talvez te alcançam como sumo melódico duma nostalgia Ou como arrepios azuis no teu momento de perdição Inventa pra ti uma nova fé jovem É o que eu estou tentando fazer pra mim Furar meus olhos pra poder viver E minha barriga sobe e desce parecendo que não faz parte de mim Como esses dedos correm soltos sem eu mandar eles irem Parece que sou só um potrinho cego recém parido Mas já me ergo tosco sobre cascos moles Já trepido torto por sobre paralelepípedos selváticos Quero a onça de mim Que não pensa Que não prevê Mas que beija de sopetão enfiando a língua fundo e feio Que apalpa aquela bundinha redondiça e leva um tapa na cara Ai como eu sou tarado não há como não confessar Mas se eu quisesse apagar qualquer coisa que veio antes disso eu seria injusto Às vezes é bom poder dizer pra ninguém aquilo que todo mundo queria dizer pra todo mundo Boceta gostosa Pronto Passou Agora sobrou uma malícia estranha Uma certeza de que faço e não faço parte Talvez sou todas as partes mas já não sou mais Porque agora sou você que daqui a pouco também não é mais E você também só vai ser você enquanto for essa imaginação rupestre que faço de você enquanto Estou aqui e você aí Porque quando você for embora eu já não sou mais nada senão sinapse reclusa e você volta a ser seu segredo de si pra si Se eu continuar existindo será que faz alguma diferença? Pra mim faz pelo menos Acho que é mesmo melhor acatar a essa divina impotência que se corrige estronchamente digladiado Se tudo é tão assim então porque eu tinha que ser tão brabo? Deviam de inventar escola de sentimentos Pra gente aprender a paz antes da aritmética Porque no fim vai vendo menos é mais daí já a escolinha está toda errada Mas eu nasci de mim e não doeu Foi mais uma morte sem medo daonde eu saí um eu novo Talvez eu tenha dado um salto pra um lugar que não sei onde é mas que apesar disso ainda é aqui Ou talvez isso tudo não seja lugar nenhum e sim apenas um momento Um momento duro e ininteligível que porém é a realidade toda autocontida num suspiro de orgia sacramentada Se fosse pra desenhar um desenho Eu desenharia salomão transando com as mil esposas ao mesmo tempo Agora minha mãe acordou e graças aos céus parece que ela vai terminar o sono dela de barriga pra cima Tenho dó porque a postura dela ainda é prematura e quando eu abraço ela tirando do chão sempre estala a cervical toda Só que eu voltei a surfar com meu pai esquecido e o resto são detalhes Eu voltei a sentir aquilo que eu sentia quando nem sabia que era gente Quando eu tinha três anos de idade e morava num canavial isolado e já tinha ereções com revistas de nudez Mas eu nunca quis transar com homem e isso pra mim é uma felicidade tonta Já não importa se isso importa ou se vai fazer você chorar Está saindo como sai um cocô bonito Talvez seu sorriso é o restinho que ficou na cerâmica E eu relaxar agora é estar passando a escovinha pra alimpar Eita coisa feia arretada vai dizer qualquer transeunte nauseabundo Mas ainda tenho vontade de fazer xixi e a internet sem fio não pega daqui mas isso pouco importa Gosto de escrever no bloco de notas sem frufruzices Às vezes eu escrevo com letra branca em fundo negro Mas é só pra cansar a vista dos opacos que ainda não sabem beber água como devem Parece que passou muito tempo desde que comecei mas foi logo agora Se estou escrevendo tão rápido talvez é melhor você também ler bem rápido Não se apegue não Não se aperreie por causa de folha virgem estrupada Essa minha página não tem fim É virtual digital Como a do saramago Mas eu não sou tão arrogante assim de me achar tão bom quanto alguém tão famoso Só importa que estou aqui Deus se é que existe me obriga a respirar Eu às vezes travo meu corpo todo só pra sofrer um pouco um sufocamento alienado arbitrário Mas é bom porque daí quando o ar entra ele vem com tudo Eu gosto também de abrir a cabeça mas não no sentido figurado É que nem abrir os olhos mas você abre os ouvidos Se é que dá pra ter uma noção do que estou tentando transmitir Abra teu labirinto Infiel Com calma Devagar Faça diacho de silêncio Não transgrida essa transa imbembe Vê se me dá esse corpinho e larga mão de frescurite aguda Eu pelo menos sou pobre mas não chamo ninguém de vagabundo Só não tolero ingratidão Se eu criar um filho gordo que depois vai embora sem dar tchau eu vou mesmo esconjurar uns meses Mas dane-se Eu nasci de novo Saí do ventre sebento do meu passado inventado Porque só existe esse agora bem já que dura pra sempre Ou pra nunca Dá no mesmo Faço força no maxilar como se fizesse musculação nas raízes dos dentes Faz efeito sim porque meus cisos tão todos aí bonitinhos no lugar Um tantão de baboseiras humanas demais dirão os velhos ressequidos Mas não estou nem aí porque eu amo clarice lispector Que me dou o direito de soletrar em minúsculas só pelo efeito têxtil Como me dou direito de tantos erros de sintaxe só pra sintetizar a essência impossível de captar mas ela está lá Não adianta procurar porque não dá pra ver Mas quem for bem claro e liso vai sentir Não como se sente qualquer toque à pele mas um tipo de sensação Talvez quando a sensação cruza a fronteira da beleza e alcança o sentimento Já passou uma hora desde que nasci de novo e minha barriga roncou bonito Acho que é um bom sinal Fome tem a ver com energia gasta E é gastando que se alarga Vou parar só um pouquinho porque quero beber água e lançar água fora Mas tenho medo de perder o fio da meada sem noção dessa ode Mas eu sei que reencontro Porque ele está bem aí em todo canto É essa cantoria super grave no cerebelo De algum jeito é alguma coisa que muitos têm em comum Ou não Tem que jambrar pacas pra chegar naquela calma de espírito Mas existe aquele melão aberto esperando na pia da cozinha novinha em folha Tem também bananas e maças mangas e outras coisas lá na fruteira mas não quero pensar nisso Não quero descrever nenhuma paisagem assim palpável Eu sou esse sorriso sincero sem linhas Delineado num tipo de eteridade trânsfuga e idiota Mas eu me perdôo E o vento que vem do sul tem um cheirinho de azaléias Apesar de eu não saber como é o odor provavelmente muito agradável das azaléias Talvez foi algum pato selvagem que me contou isso e agora estou passando adiante Vou fazer tirar a água do joelho e cargar a bateria antes que o arquivo se perca por desdém Pronto eu quase fui dormir mas bebi dois copinhos dágua e uma caminhoneta passou na rua sem asfalto fazendo barulho na lama E isso me fez querer continuar Apesar de eu saber que ia fazer bem pregar um pouco os olhos pra não acharem que estou com cara de doente bem no meu dia Eu sei que depois eu vou lembrar Agora ainda é só prepotência porque ainda estou insone desbravando matagal Mas eu sei que depois eu vou saber continuar isto daqui Pra você não vai ter pausa porque você é o meu futuro imprevisível Mas eu vou me permitir uma pausa agora Pra minha mãe ficar um pouco feliz mesmo sem saber de nada disso porque ela está dormindo profunda linda do meu lado Esfrego os olhos sem sono mas vou me esticar um pouco pelo social Só pra partilhar um tipo de rosto mais natural já que vão querer fazer bolo e cantar velas pra mim hoje Tudo bem O nenê nasce Daí chupa o peito arrota e capota no berço Agora o dia aceso é meu mosquiteiro não precisa mais de veneno O véu do sol vai acomodar minha impaciência refugiada E eu sei que vou saber continuar porque tremeluz água viva no meu coração arredio de moleque Já chega a próxima linha vai sair não sei quando pra mim é bem depois pra você já é logo agora Eu sou o predestinado porque eu sei respirar debaixo dágua Arrancar o oxigênio indolor da massa aquosa rutilante Vou apertando firme com frimesa as rédeas sonsas deste corcel Cavalgo o prazer de me desfazer de mim pra me reencontrar surpreendente Junto os farrapos de minha experiência pra montar um patchwork colorido Acolchoado de retalhos que me aquece no inverno hiperbóreo Lanço ao céus pedras estilingadas em caça de aves gordas Mas sem sorte acerto os cumes aéreos do vazio e me desvio das gravidades O empuxo mágico mítico da ensolação faz voar a inteligência do bicho domado Mas se sou vertigem de instinto logo escarneço o que suponho controlar A vida é astuta sem medida Não pede beijos nem carinho isto damos por dádiva recíproca Que pra reproduzir basta a violação íntegra E o suor seco da catinga se esconde no sovaco As coceiras ruidosas banham de crepúsculo Não há hora de temor senão a do aprendizado E é trabalhando que se aprende o ofício É dando nomes que descobrimos a fusão Fingindo ceifar roubamos mérito ao fruto quedado A brisa sopra um desconforto que contorna minha cútis Na floresta de mil dimensões um anjo da guarda espreita Impede o passo antes que se pise na peçonha negra E a escuridão pavorosa da noite sem lua me afaga de mistério Festança sonâmbula eletrizando bicos calados Os olhares flamejantes dos gatos do mato salpicam vagalumes de estrelas mortiças Serpentes furibundas circeiam o acampamento lerdamente Ateio fogo em meus cadernos em minha morada Prefiro deixar aos filhos o legado do aprendizado Evitar a guerra pela herança que derruba o que havia de família Vou espalhar sementes enquanto é tempo Derribar velhos ídolos em nobre intento Mas a sagacidade das estranhas me estanca Sou um texto desvairado que não se prevê Sina lúdica Marretando meianoites em pleno dia Toda luz vem da treva Cada astro queima fósseis de pontos zeros Em equilíbrios dinâmicos fluorescentes E odeio as conspirações fluoretadas de escovações semióticos Quero mais o insuportável a alucinação simbiótica Quero mais ser formigas e antas e pacas e tatus Sou coiotes esfaimados rumando à terra prometida Matilhas de cães ladram em mim Peneiro oleosidades de minha pele treslumbrada Sou palavras cheia de oco estupefato Dando todas faces a bater Que me inchem as fuças se é que me ensina Que me quebrem os ossos se é isso que fortalece Mas sou um último matador Mafioso pagando pra dispensar falsos amigos Correias do passado me prendem às canelas Mas arrasto fantasmagórico os elos da concórdia Invisto em teoremas descabidos e afoitos Rogo por dominar aquilo que me transcende E me expulso de mim por precaução Por sabedoria adquirida em desditas cumuladas Quero a velocidade suprema do beijaflor Congelado no oblivion transmoderno Quero a intrínseca paixão das ramagens e madressilvas Correr singelo como barbatanas de tubarão branco Estourar fogos de artifício na alma entorpecida Bombas atômicas detonadas sem se notar A radiação me desmancha as tranças Sou a fronteira entre a palavra improvisada e o atino corriqueiro Insuflando onomatopéias em braille transviado Encobertando inocentes nazistas injustiçados Venho realizar um sonho matutino em breu catalítico Sou todas as esferas que não se tocam senão na tangente inexequível da lembrança E o universo de lembra de mim Faz memória de meus semblantes e a pedra reclusa em meus nervos eclode magma vulcânico Túbulos ornamentais de postagens comedidas Sou a comédia de babilônias quedadas O ranço medicinal das masmorras enterradas Quero o sotaque mordaz do favelado cibernético Todas analfabetizações da imprudência Por entre sôfregos pensamentos impensáveis a morte do caleidoscópio do ego Trovejando trombas dágua corredeira abaixo Arrancando blocos monumentais de fuligem transpirada Extraindo dos poros ácido sulfúrico de liberdade controversa Sou em aglutínio de relações imprevistas dando foco sob cataratas incuráveis Quero a paz mundial Permito o sonho infantil em mim De mim parte uma seta de anil chumbado Que atravessa o coração do mundo Estou escrevendo com meus pelos eriçados E mentindo sobre o que talvez nunca poderia sentir e que quem sabe te toque como piano recostado que recupera a vida antiga de bordéis e botequins do faroeste mandacaru Vou vestindo pés de meias e resguardando os aquários de ilusões sagradas que cabem nos bocejos da estupidez Vou sangrando invisivelmente um surrealismo abrupto de inutilidades lamentáveis E os pólos se revertem pra me dar razão Os oceanos bramem sortilégio rugoso pondo ponto em meu conto Conto sem tema nem prefácio Esparsa localidade do espírito Ando sobre a terra com meus cabelos E minhas pernas são rodas dentadas girando as engrenagens do momento que já deixa de existir assim que o nomenclaturo Enclausuro em imodéstia a incerteza da sólida presença Cuspo as tristezas dos sapos engolidos e faço chorar a dor porque não se deve atravancar a sinceridade por causa de pactos sociais ultrapassados. 31 de Agosto de 2009; Itacaré, Bahia. ORGASMAGIA http://orgasmagia.blogspot.com/
|
|